Envelhece, Brasil!

Estamos envelhecendo. Ainda bem! Embora o IBGE ainda não tenha apresentado dados detalhados sobre faixa etária na divulgação do Censo 2022, que aconteceu esta semana, já se sabe que a população idosa está aumentando cada vez mais no Brasil. Os dados comprovam um cenário já conhecido em todo o país e fortalecem a tese de que precisamos nos preparar desde já para o desafio de cuidar mais e melhor e a respeitar os idosos.

“Isso significa que haverá uma carga de pessoas mais velhas precisando de tratamento, de atendimento médico”, afirmou à Folha o sociólogo Simon Schwartzman, ex-presidente do IBGE. “Ao mesmo tempo, vai ter menos gente trabalhando para sustentar uma população mais velha. Isso vai ter impacto sobre a Previdência Social, vai ter menos gente recolhendo dinheiro à Previdência e mais gente tendo de receber benefícios. Tem uma série de implicações que vão vir”, acrescentou.

Mas, muito além do esforço e do custo que isso representará para a economia, a saúde e a previdência, temos a oportunidade de olhar para a população idosa com outros olhos: sob a ótica da oportunidade. A questão não é envelhecer em si, mas envelhecer bem, com saúde e potencial para ajudar a construir algo novo, que valorize o compartilhamento da cultura, do conhecimento, da experiência, das histórias únicas e ímpares que a população idosa carrega naturalmente.

No Brasil, via de regra, o idoso fica sozinho, tratado como uma criança inválida, que só toma remédio e não pode sair de casa, nem falar com ninguém além daqueles com quem já convive. Essa pessoa, com uma riqueza imensa de experiência e conhecimento, quer compartilhar, se sentir útil, produtiva e independente. Mas, ao contrário disso, enfrenta muito preconceito – o chamado etarismo, idadismo, ageísmo, velhofobia… Não à toa, em 2011, a ONU instituiu o 15 de junho como o Dia Mundial de Conscientização sobre a Violência contra a Pessoa Idosa, como forma de estimular a denúncia às violações aos direitos dos idosos.

Esta pauta também merece atenção na agenda ESG, não só pelo movimento de crescimento da população idosa no Brasil e no mundo, mas principalmente pelo viés do potencial que ela tem para participar ativamente desse processo de mudança. Ao Valor, o ator Harrison Ford – que completa 81 anos agora em julho – disse que está feliz mais velho, na première mundial de “Indiana Jones e a relíquia do tempo”, filme que encerra a saga do personagem que interpretou por cinco vezes ao longo dos últimos 40 anos.

Os cabelos brancos estão na moda, atestou ao Valor o também ator Alexandre Nero. Para inspirar no fim de semana, vale parafrasear um dos maiores nomes da literatura brasileira, que, ao ser perguntado, em uma entrevista em 1977, sobre qual conselho daria aos mais jovens, lançou, de forma lacônica e genial: ‘Envelheçam depressa, com toda urgência, envelheçam!’. A frase é de Nelson Rodrigues.