3 de julho de 2023 | Estratégia ESG, , , ,

Vamos juntos para a COP28, sem relativizar nada?

Por Kelly Lima

O Brasil pretende defender uma posição conjunta dos países que compõem a região amazônica para levar à Conferência do Clima em novembro em Dubai. A ideia, defendida pelo presidente Lula na última quinta-feira, seria levar à COP 28 uma política unitária dos oito países da América do Sul em prol da manutenção da floresta em pé. A mesma deia já havia sido defendida por um líder bem menos popular do que Lula na última conferência, em 2022: Nicolas Maduro, da Venezuela, levou a intenção de criar a Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América – Tratado de Comércio dos Povos (ALBA-TCP), com o mesmo objetivo de proteger as florestas.

Também em 2022, Gustavo Petro, da Colômbia, foi além e defendeu a criação de um fundo conjunto que reunisse recursos dos países e de empresas privadas, lembrando que seu país vai mobilizar US$ 200 milhões por ano durante 20 anos para a conservação da Amazônia.

O Brasil tem cerca de 60% da Floresta Amazônica, o Peru, aproximadamente 13%, e a Colômbia, 10%. Bolívia, Equador, Venezuela, Guiana, Guiana Francesa e Suriname juntos detêm cerca de 17% da do território que compõe a Floresta Amazônica.

Ao que tudo indica, deverá mesmo ser uma posição conjunta a ser consolidada na Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), que acontecerá em Belém no começo de agosto. E não causa espanto. Ocorre dentro das expectativas dos seus eleitores que apontam estar preocupados sobre a crise climática e os efeitos nocivos do desmatamento da Amazônia, especialmente no Brasil.

Mas, mais que isso, o alinhamento tem também um olho superlativo para os grandes volumes de recursos destinados a proteger a Floresta Amazônica. Estudo do Banco Mundial aponta que a preservação da Amazônia vale US$ 317 bi. E já é conhecido o aumento nos aportes que chegam com essa finalidade. Doações ao Fundo Amazônia, gerido pelo BNDES, já chegam a R$ 6 bi, e o Pará negocia outros R$ 5 bi, com o mesmo BNDES, para sediar a COP30 em 2025.Na última semana o presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento, Ilan Goldfajn, informou em evento com representantes dos estados brasileiros que compõem a Amazônia Legal, com a presença da ministra Marina Silva, que possui um volume de US$ 430 milhões em recursos para investir em projetos de desenvolvimento da região na forma de grants, verbas que não precisam ser reembolsadas.

Garfar nacos bilionários desta disponibilidade do mundo em salvar a Amazônia parece brilhar os olhos de qualquer governante, mas seria também interessante que houvesse um olhar para dentro de suas próprias responsabilidades democráticas. Alguns dos temas que serão discutidos na COP28 – para além da Floresta Amazônica – podem estar no epicentro político econômico destes países, e é vom que se conheça uma posição conjunta destes países sobre esses temas. O destino dos combustíveis fósseis são um deles. As crises sociais são outro.

As pessoas continuam deixando a Venezuela para escapar da violência, da insegurança e das ameaças, assim como da falta de alimentos, remédios e serviços essenciais. Com mais de 5 milhões de venezuelanos vivendo no exterior, esta se tornou uma das maiores crises de deslocamento do mundo, concorrendo com os grandes fluxos migratórios originados nas mudanças climáticas, um dos principias temas que envolve a questão social durante a COP.

Antes de se falar no E do ESG, para proteger as suas florestas, ou de acessar o G para os recursos que chegarão do mundo todo para tal finalidade, a união dos países sul-americanos poderia também tratar do S. Ou seja: por o dedo na ferida. Sem relativizar.

Só assim chegaremos juntos de cabeça erguida na COP28 e nas futuras.

Por: Kelly Lima