Trilhos feitos de pneus usados? Garrafas feitas de papel? Catracas que geram energia ao serem rodadas?
Grandes ideias jorram aos borbotões para solucionar os problemas crescentes da superpopulação mundial em suas eternas dificuldades de lidar com a implementação de uma economia verdadeiramente circular, com a geração de energia renovável, com a mobilidade, e o superaquecimento do planeta. Quantas dessas ideias saem de fato do papel? E quantas realmente interessam ao consumidor e ao investdidor mais do que o tempo para uma curtida no post que revela a inovação?
Segundo um estudo global feito pela Forest Stewardship Council (FSC), certificadora de manejo florestal responsável, em parceria com a empresa de pesquisa e pesquisas IPSOS, as condições econômicas que acarretam problemas de inadimplência, e falta de acesso a crédito ou melhores condições de compras, tiram mais o sono dos consumidores do que preocupações ambientais e climáticas. A pesquisa, que ouviu mais de 28 mil consumidores entre outubro e novembro de 2022 em 33 países, incluindo 800 brasileiros, foi divulgada na quarta-feira passada no Valor – no mesmo dia em que a Terra registrou o dia mais quente de toda sua história.
Na mesma linha, relatório feito pelo Instituto de Ciências Atuariais da Universidade de Exeter, no Reino Unido, apontou que os bancos subestimam a crise climática e suas consequências em seus modelos matemáticos usados para desenhar cenários futuros e prever os efeitos sobre seus negócios. Inflação, juros, câmbio, emprego, atividade econômica e outras variáveis estão à frente na análise de riscos.
Ainda seguindo a mesma lógica de raciocínio, há os que não veem – ou não querem ver – que o valor de manter a Floresta Amazônica em pé é cerca de sete vezes superior ao lucro que pode ser obtido através de diferentes atividades de exploração econômica da região. A informação consta de relatório divulgado pelo Banco Mundial, sobre o desenvolvimento na região da Amazônia Legal. A estimativa considera que a preservação da floresta vale, ao menos, US$ 317 bilhões por ano – o equivalente a R$ 1,5 trilhão.
Não enxergar as boas ideias de inovação para um mundo melhor, não ver relação entre a economia e as quesões climáticas, ou ignorar os riscos financeiros envolvidos na temática, além de passar por cima dos sinais que o mundo nos dá sobre o colapso iminente, e ainda, fechar os olhos para as evidências que apontam o bom negócio da sustentabilidade do planeta para o futuro das pessoas, só pode estar centrado em uma das duas possibilidades sacramentadas por Nelson Rodrigues: “má fé cínica ou obtusidade córnea”.
Sinto dizer que, se você está no grupo dos que, além dos sintomas relatados aqui, ainda tropeça em pessoas enroladas em seus cobertores vivendo nas ruas, e não vê qualquer relação entre elas e o que estamos falando, sinto informar, mas você pode estar conjugando as duas hipóteses como um epíteto. Reveja suas concepções e sua existência neste planeta.