Na dúvida, melhor não divulgar. Esse tem sido o argumento utilizado por empresas que admitem recorrer ao “green-hushing” (ou “silêncio verde”, em livre tradução). Trata-se da decisão tomada por organizações que preferem não informar detalhes de suas metas climáticas.
O green-hushing não é uma expressão nova, mas adquiriu mais evidência no final do ano passado, quando a organização South Pole apresentou o resultado de um levantamento realizado com 1.200 empresas de 12 países. Desse total, uma em cada quatro declarou que não divulgaria este ano suas metas Net Zero, que buscam emissões líquidas zero das operações.
Apesar de 75% das empresas terem respondido que aumentariam seus orçamentos para políticas Net Zero alinhadas a bases científicas, a South Pole identificou o green-hushing como uma prática emergente. Um dos motivos é a precaução contra retaliações por acusações de greenwashing, ou “lavagem verde”, quando são divulgadas práticas ambientais como estratégia de marketing, mas sem embasamento em fatos e dados.
Dessa forma, evitariam riscos para a reputação da marca, ações judiciais por propaganda enganosa ou dificuldades de acesso a crédito junto a instituições financeiras mais rigorosas com práticas ESG. De acordo com reportagem do The Washington Post, os três maiores gestores de ativos dos Estados Unidos – BlackRock, Vanguard e State Street – estão na mira de parlamentares do Partido Republicano. Em relatório divulgado no mês passado, acusam as instituições financeiras de usarem sua influência “para promover objetivos sociais liberais como ESG e DEI (diversidade, equidade e inclusão)”.
Na mesma ocasião, o CEO da BlackRock, Larry Fink, declarou ter parado de utilizar o termo ESG por ter se tornado muito politizado. A medida, contudo, parece ser apenas de semântica, uma vez que a organização ainda é um dos membros mais influentes da Net Zero Asset Managers, que reúne gestores comprometidos com emissões líquidas zero até 2050.
Isso demonstra que o setor financeiro continua convencido sobre a relação entre rentabilidade e sustentabilidade, mas ainda há um dever de casa a ser feito com o “G” do ESG. Em outras palavras, toda essa controvérsia reforça a urgência de se estabelecer padrões de governança reconhecidos globalmente, que evitem questionamentos movidos por interesses políticos.