Ando devagar porque já tive pressa. E levo esse sorriso porque já chorei demais. A letra da canção ‘Tocando em frente’, de Almir Sater e Renato Teixeira, embala meus pensamentos hoje ao refletir sobre o atual ritmo das transformações necessárias para enfrentamento às mudanças climáticas em curso. ‘A era da ebulição global chegou’, disse ontem António Guterres, secretário geral da ONU, ao comentar dados do Serviço Copernicus de meteorologia, ligado à União Europeia, que confirmou que as três primeiras semanas de julho foram as mais quentes já registradas na história.
Nas últimas semanas, houve quem se sentiu mais forte, mais feliz, quem sabe, com a certeza de um importante avanço nas novas proteções legais aprovadas pela União Europeia para a natureza e a biodiversidade e para combater a crise climática. Ou então com o desenho de um Plano de Transição Verde no Brasil, que deve ser lançado em agosto ou setembro, mas que já desperta o interesse internacional, com possibilidade de movimentar centenas de bilhões de dólares em investimentos públicos e privados e de se tornar ‘a grande marca do governo’. Confesso que sobre isso ainda pouco sei, ou nada sei.
O mercado também tem suas manhas. E nós, as manhãs. Na contramão da agenda ESG, o multi bilionário Warren Buffet está investindo os tubos em petróleo e gás. A Berkshire Hathaway aproveitou a queda nos preços das commodities este ano para investir 3,3 bilhões de dólares em um terminal de exportação de gás natural liquefeito em Maryland, nos EUA, por exemplo. O sabor aqui é do retorno sobre o capital que o investimento em carvão, petróleo e gás geram no atual momento de preços baixos. Nada a ver com as massas e as maçãs.
É preciso ter uma visão além do financeiro para fazer pulsar e dar escala à agenda ESG e às mudanças necessárias para frear as mudanças climáticas. É preciso mais ação para além dos planos, marcos legais e grupos de trabalho. A Exame divulgou ontem que o Pacto Global da ONU no Brasil lançou um Grupo de Trabalho de Negócios Oceânicos para impulsionar a transição energética dos portos e transporte marítimo. É essencial começar esse trabalho, considerando que nenhum porto do país, entre os avaliados, tem estrutura pronta para combustíveis alternativos. Como ensina a canção, é preciso chuva para florir.
É preciso compreender a marcha e ir tocando em frente. Como um velho boiadeiro, a gente conduz a nossa boiada pela estrada da descarbonização da economia, sem que a expressão carregue a conotação pejorativa que um dia já teve. Afinal, essa jornada é longa e exige perseverança. Um dia a gente vibra. Em outro a gente chora. Um dia a gente chega e no outro vai embora.
No fim, o fato é que cada um nós compõe a sua história em um mesmo planeta com recursos limitados. Cada ser em si carrega o dom de ser capaz de construir um novo modelo de produção e consumo, que permita deixar como legado um mundo melhor e mais justo para as próximas gerações. Para que a gente possa ser feliz!