15 de agosto de 2023 | Estratégia ESG, , ,

Capital e política duelam pelo ESG

Por Gilberto Lima

No início deste mês, a agência de avaliação de risco S&P Global anunciou que deixou de informar a nota ESG de empresas em seus relatórios de ratings. A decisão é mais um capítulo da guerra travada por parlamentares do Partido Republicano, dos Estados Unidos, contra o uso de critérios ambientais, sociais e de governança por gestores de ativos no país.

Em reportagem do Financial Times, Tom Lyon, professor da escola de negócios da Universidade de Michigan, disse que o anúncio da S&P foi “apenas o exemplo mais recente de uma empresa desmoronando diante desses ataques republicanos”.

Em nota veiculada em seu site, a agência de rating afirma que “continua comprometida em fornecer ao mercado transparência sobre como fatores ambientais, sociais e de governança (ESG) influenciam nossa avaliação de qualidade e de crédito”. Nesse sentido, a S&P argumenta que a decisão abrange apenas seus indicadores alfanuméricos ESG, publicados desde 2021, e que manterá em seus relatórios os parágrafos analíticos sobre o tema. A atualização, portanto, não afetaria seus critérios de princípios.

De acordo com artigo da Harvard Business Review assinado pelo especialista em negócios sustentáveis Andrew Winston, há resistência em diversos estados a legislações locais que buscam restringir investimentos em instituições financeiras que usam critérios ESG. Esse é o caso, por exemplo, de executivos de fundos de pensão dos estados de Kentucky e Dakota do Norte. Em Indiana e Nebraska, associações bancárias estão fazendo lobby contra políticas republicanas com o mesmo objetivo.

Conforme observa Winston, a reação do setor financeiro não é movida por filantropia, mas pela busca por bons negócios. Afinal, as questões sociais e ambientais têm impactos materiais consideráveis nas empresas, o que torna investidores legalmente obrigados a considerá-los.

O Texas é um bom exemplo. O governo estadual elaborou uma lista de 10 instituições financeiras e 340 fundos de investimento que estariam boicotando o setor de combustíveis fósseis. Com base em uma lei de 2021, exigiu que fundos de pensão e de escolas retirem investimentos administrados pelos listados.

Estudo divulgado pela Wharton School of Business estima que a legislação do Texas já custou US$ 532 milhões em pagamentos de juros mais altos sobre títulos municipais, com impacto direto no bolso dos contribuintes. Logo, a ofensiva legislativa não faz sentido, tanto sob o ponto de vista financeiro quanto político.

Ao fim e ao cabo, é bem provável que o duelo entre o capital e a política seja um assunto a ser resolvido pelos tribunais. Dadas as responsabilidades fiduciárias impostas com rigor pelos órgãos reguladores dos Estados Unidos aos investidores, o movimento anti-ESG terá muita dificuldade para lograr êxito. 

Por: Gilberto Lima