21 de agosto de 2023 | Estratégia ESG, , ,

Os fantasmas do ‘Pacman’

Por Kelly Lima

Na década de 80, um jogo criado para o vídeo game Atari, inspirado num personagem popular japonês famoso pelo seu apetite – o Paku –, ganhou milhares de adeptos e seguidores. O jogo consistia basicamente numa forma circular, como uma pizza em que faltava uma fatia, simulando uma boca aberta. O movimento de abrir e fechar essa boca, comendo pastilhas que viessem à sua frente, determinava o avanço do jogo, que ganhava gradações mais intensas em agilidade e quantidade de “comida” na medida em que se avançava, e também em fantasmas que perseguiam o personagem, encurralando-o até um game over.

Mesmo que tenha nascido neste século, você deve saber que estou falando do Pacman, um dos primeiros personagens de videogame a promover ações massivas de merchandising, que renderam milhões em vendas de bonés, camisetas, casacos, calças, copos de café, etc..

Pois foi exatamente neste personagem que pensei e criei analogias – inicialmente apenas semânticas – ao acompanhar o anúncio do novo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). Afinal, o plano é um personagem central deste governo, tido como um herói capaz de gerar quase cinco milhões de emprego, e com um apetite voraz: investimentos de R$ 1,7 trilhão até 2026, três vezes maior do que a primeira versão, que teve 95% do programado executado, e equivalente à segunda versão – sob gestão de Dilma Roussef – que finalizou com 65% realizado sobre o previsto.

A principal diferença do PAC 3.0 é trazer um viés ESG transversal às obras, como explicou o ministro da Fazenda, Fernando Haddad: “O plano vai muito além da transição energética e da substituição dos combustíveis fósseis pela energia renovável. Trata-se da criação de uma nova conduta e postura em relação à ecologia, que contará com a proposição de novas leis e regulamentos que abram caminho para novos investimentos e que orientem governos, estados, municípios, empresas, sociedade civil, cidadãs e cidadãos para um novo tipo de interação com a natureza”, destacou.

O problema é que, como no jogo dos anos 80, BlinkyPinkyInky Clyde, os quatro fantasmas/vilões do Pacman, têm seus superpoderes para aniquiliar o herói. Apenas por analogia, podemos pensar aqui em quatro fantasmas que podem por em xeque a nova “postura” citada pelo ministro: Centrão, Ferrogrão, Foz do Amazonas e Angra 3. O primeiro corre atrás do herói sem cessar; o segundo muda de humores de acordo com o cenário; o terceiro sempre surge no meio do nada, surpreendendo o personagem; e o quarto volta pro seu cantinho e desaparece quando se sente ameaçado.

Conhecer humores, trajetórias, armadilhas, percalços e encalços desses fantasmas para não se deixar enredar e garantir o avanço no jogo dentro dos propósitos anunciados é um desafio de super-herói.

Por: Kelly Lima