As emissões globais de títulos de dívidas vinculados a metas de sustentabilidade alcançaram no primeiro semestre um valor total de US$ 526 bilhões, o que representa um aumento de 7% em relação a igual período do ano passado. De acordo com relatório recente divulgado pela Moody’s Investor Service, o volume total neste ano deverá atingir ou superar US$ 950 bilhões, o que representaria um crescimento de 10% em relação a 2022.
No segundo trimestre, a maior parte das emissões foi realizada na Europa, que representou 50% das operações, seguida de América Latina e Caribe (32%), Oriente Médio (29%) e Ásia e Pacífico (29%). A América do Norte registrou queda nas operações e representou apenas 4%, por conta do movimento anti-ESG nos Estados Unidos – sobre o qual tratei na semana passada.
Também conhecidos por GSSS – green, social, sustainable and sustainability–linked bonds –, os diferentes tipos de títulos sustentáveis apresentaram comportamentos distintos no período analisado pela Moody’s. Enquanto os green bonds representaram 60% do volume no segundo trimestre, os sustainability-linked bonds (SLBs) apresentaram queda de 50% em relação a igual período do ano passado.
O resultado dos SLBs foi motivado pelo maior escrutínio de greenwashing regulatório e político em relação a esse tipo de ativo. De acordo com o diretor de Pesquisa e Títulos Verdes, Sociais e de Sustentabilidade da consultoria MainStreet Parners, Pietro Sette, as alterações de linhas de base para definir as metas de SLBs estão sendo alteradas muito mais do que o esperado.
Embora esses ajustes não envolvam mudanças nas metas em si, Sette afirma que as alterações são um fator ameaçador à credibilidade desses títulos. Cabe observar que realinhamentos de bases são aceitáveis, uma vez que os negócios das empresas emissoras mudam o tempo todo, em virtude de fusões, aquisições e alienações. A questão, contudo, seria a falta de clareza como essas alterações são comunicadas aos investidores.
Como forma de responder às críticas, a International Market Association atualizou seus Princípios de SLBs, para aperfeiçoar as práticas no mercado. Por isso, o grupo também lançou a primeira atualização do Climate Transitional Financial Handbook, um guia para a emissão de títulos com temas climáticos.
Em resumo, o crescimento do mercado de dívidas ESG é uma boa notícia em relação à forma como as empresas buscam tornar tangíveis seus compromissos ambientais e sociais, mas as regras de governança precisam acompanhar o ritmo.