Verdade seja dita: a desigualdade social ainda é um tema tão esquecido quanto necessário. Quem trabalha com a temática e, portanto, não se cansa de falar sobre a importância de combater desigualdades em todas as suas camadas, fica sempre com a dúvida: será que estamos falando suficientemente sobre esse assunto?
Na última terça-feira (19/9), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez a abertura da 78ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York, nos EUA. “O mundo está cada vez mais desigual. Os dez maiores bilionários possuem mais riqueza do que os 40% mais pobres da humanidade”, afirmou Lula no início da sua apresentação no púlpito da ONU.
Em um discurso forte, marcado por aplausos da plateia, o presidente brasileiro levou, para perto do alto escalão das 193 nações que compõem a entidade, a urgência do tema e as suas consequências, seguido de uma reflexão sobre a atual inoperância generalizada a respeito do assunto: “o imperativo moral e político de erradicar a pobreza e acabar com a fome parece estar anestesiado”. Para Lula, o combate à desigualdade precisa ser o foco principal da agenda 2030 da ONU. E essa também precisa ser uma preocupação de todos nós.
Ainda que tenha ocorrido uma diminuição na desigualdade em 2022, atingindo o menor nível da série histórica, iniciada em 2012, da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, com uma alta de 7% no rendimento do brasileiro, a desigualdade do país ainda é uma das mais altas do mundo. O índice Gini, o mais usado para aferir desigualdades, situa o Brasil como o 10º pior no quesito, ficando atrás apenas de países africanos, que estão no topo da lista. Isso evidencia o quão atualizado estava o discurso de Lula, e que, por aqui, ainda há muito o que se falar sobre o tema.
Na pauta da agenda 2030 da ONU estão os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) que deverão tornar as cidades mais sustentáveis e inclusivas. Entretanto, o cumprimento de boa parte deles, se não de todos, ainda esbarra no tema da desigualdade social.
A busca por um mundo mais equitativo precisa começar, sobretudo, no combate à fome e à pobreza. Afinal, quem são os mais atingidos pelos impactos das mudanças climáticas? Quem são os que mais precisam da garantia do alimento na mesa todos os dias, do acesso à água potável e ao saneamento básico, a uma educação de qualidade, a um atendimento digno e seguro no posto de saúde do bairro? É a população mais vulnerável que encabeça as respostas a todas essas perguntas.
Evidentemente, são objetivos relevantes e, portanto, emergentes. Mas, o caminho é inverso. Para atingir tais metas e objetivos, é preciso olhar mais atentamente para o que permeia, causa e ainda alastra a desigualdade no Brasil e no mundo. Essa anestesia, que nos torna negligentes com a dor do outro e com a falta de atitude e cobrança às autoridades responsáveis, precisa passar. O dia já começou e precisamos acordar.