22 de setembro de 2023 | Estratégia ESG, , , ,

Sem medo de perguntar

Por Eduardo Nunes

Fazer as perguntas certas vai muito além de um mero gesto de curiosidade. Num momento em que muitas pessoas parecem ter certeza sobre todas as respostas, há quem valorize a dúvida como um instrumento de transformação e progresso, como o engenheiro florestal Tasso Azevedo, fundador do MapBiomas, entrevistado desta semana do programa Provoca, da TV Cultura. “O avanço é dado pelas boas perguntas. Hoje, tem que saber perguntar. Com o ChatGPT, por exemplo, as pessoas estão aprendendo o quão importante é saber perguntar. O jeito que se pergunta muda a forma de como ele (ChatGPT) responde”, comparou Azevedo.

Vivemos em uma sociedade que está sempre em busca de respostas rápidas e soluções imediatas. A pressa em ter certezas nos leva a uma zona de conforto perigosa, na qual deixamos de questionar e refletir sobre a complexidade dos problemas que enfrentamos. Porém, quando fazemos perguntas, abrimos caminho para novas perspectivas e soluções inovadoras. Não se trata de uma fragilidade, como alguns percebem. Ao contrário, representa uma força que gera transformação.

Como o Brasil pode contribuir para reduzir as emissões de gases de efeito estufa? Quais ações individuais e coletivas podemos adotar para mitigar os impactos das mudanças climáticas? Na última quarta-feira (19/9), a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, anunciou, durante a Cúpula da Ambição Climática da ONU, em Nova York, a meta de reduzir em 48% as emissões de gases de efeito estufa até 2025 e 53% até 2030. É possível alcançar essas metas por meio do combate, principalmente, ao desmatamento ilegal.

Como podemos garantir o respeito aos direitos territoriais dos povos indígenas? Ontem, por 9 votos a 2, o STF decidiu pela inconstitucionalidade da tese do marco temporal para demarcação das terras indígenas. Uma vitória fundamental na agenda dos povos indígenas, cujas terras sofrem invasões, exploração ilegal de recursos e danos ao patrimônio, que, em algumas oportunidades, são patrocinadas inclusive por agentes públicos.

Quais os limites dos que estão no exercício do poder público e político? No início do mês, reportagem do RJTV revelou que deputados estaduais do Rio de Janeiro usam sirenes em veículos da Assembleia Legislativa para abrir caminho no trânsito, em um explícito escárnio aos eleitores cariocas e fluminenses. A reportagem flagrou vários parlamentares usando deste recurso para abrir caminho no congestionado trânsito do Rio.

“Me pergunto, pq (por quê)? Por que ela?”, desabafou Alana dos Santos Silva, mãe da menina Heloísa, de apenas 3 anos, que morreu esta semana no Rio de Janeiro em decorrência de um tiro disparado por um agente da Polícia Rodoviária Federal após uma abordagem absolutamente despreparada. A mãe de Heloísa chegou a se culpar por não conseguir proteger a sua filha. Mas, nós, como cidadãos, deveríamos nos perguntar como podemos evitar novas tragédias como essas? E se fosse com a sua filha? O que vamos fazer para ter agentes de segurança (realmente) preparados para garantir a segurança de todos?

Quanto custaria salvar a floresta e deixar a pecuária de lado na Amazônia? Foi esta pergunta que moveu os economistas Juliano Assunção, diretor executivo do Climate Policy Initiative (CPI/PUC-Rio) e José Alexandre Sheinkman, da Universidade de Columbia, a realizar um estudo que mostrou que seriam necessários US$ 20 por tonelada de CO₂ capturado pela Amazônia para mudar o destino da floresta.

A dúvida é uma ferramenta poderosa para gerar inovação em todos os campos. A busca por respostas é o que move o progresso humano. Se fizer as perguntas certas – e não ter medo de errar também, porque a gente aprende com o erro – é possível reduzir as incertezas e tomar decisões mais assertivas e eficientes. É por meio da dúvida que encontramos soluções inovadoras para proteger o planeta, garantir os direitos fundamentais, melhorar a segurança pública e fortalecer a democracia.

Por: Eduardo Nunes