Sim, você leitor assíduo desta newsletter vai ler aqui neste espaço, pelo terceiro dia consecutivo, uma opinião sobre o mercado de carbono, aprovado nessa quarta-feira (4/10) pela Comissão de Meio Ambiente do Senado por unanimidade. O projeto cria o Sistema Brasileiro do Comércio de Emissões (SBCE) e regula as emissões de empresas acima de 10 mil toneladas por ano. A estimativa, baseada em um estudo da WayCarbon junto com a Câmara de Comércio Internacional, é que possa ser gerada uma receita extra de US$ 120 bilhões (R$ 564 bilhões).
Para além das efusivas comemorações que apitaram em todos os grupos de WhatsApp na manhã de ontem com essa “breaking news”, choveram críticas. Afinal, foram anos, décadas tentando implementar esse sistema de para compensar a emissão de gases de efeito estufa, beneficiando empresas e países que poluem pouco e cobrando daqueles que liberam mais poluentes na atmosfera.
Mas, na hora H, o peso da bancada ruralista foi maior. E o “agro”, essa entidade genérica, porém nada etérea, cultuada e odiada na mesma proporção pelos entes da temática ESG, conseguiram escapar de possíveis taxações, mesmo representando 70% das emissões do país.
Mal comparativamente, é como se o governo decretasse que, a partir de hoje, você paga na conta de luz apenas pelo que consome na lâmpada da sala e da cozinha. E deixasse de fora a cobrança do ar-condicionado, da geladeira, e do ferro de passar roupa. Imagina que festa?
E imagina você aí, sentado na mesa de café da manhã, que está se perguntando o que tem a ver com isso. Seria interessante pensar que esse mercado de carbono é uma das únicas chances que o planeta tem de pegar pelo bolso os que estão intensificando a crise climática, a cada dia ampliando catástrofes e eventos extremos e prejudicando o futuro, inclusive, da própria produção da sua comida, e consequentemente da sua sobrevivência. A argumentação para deixar o agro de fora é que “não daria para medir” o volume de emissões.
Imagine se você soubesse que o próprio setor agro, entre 2015 e 2020 , foi o principal destinatário do financiamento climático – fluxos de capitais que possuem efeitos diretos ou indiretos na mitigação de GEE – e recebeu uma média de R$ 15,1 bilhões/ano, o que corresponde a 60% dos fluxos do período mapeado pela Climate Policy Initiative neste estudo. Apenas para comparação, o setor de bioenergia e combustíveis, tão cobrado pela famigerada transição energética, recebeu R$ 1,3 bilhão/ano – 5%.
E você aí achando que vai salvar o planeta indo trabalhar de bicicleta…tolinho.