6 de outubro de 2023 | Estratégia ESG, , ,

Uma pausa para reconhecer

Por Eduardo Nunes

Em uma semana repleta de acontecimentos, sugiro uma pausa para reconhecer alguns dos fatos que nos cercaram. Seja para distinguir algo ou alguém por certas particularidades, seja para constatar e aceitar algo como verdadeiro. Seja para admitir um erro, seja para mostrar gratidão. Ontem, a Academia Brasileira de Letras (ABL) reconheceu Aílton Krenak, o primeiro indígena a entrar para a instituição que abriga ‘imortais’. “Quando a Academia acolhe um sujeito vindo dessa constelação de povos, ela está admitindo um debate sobre essas superestruturas coloniais que estão aí (…)”, disse Krenak.

Na quarta-feira (4/10), que na religião católica é o Dia de São Francisco, conhecido como protetor dos animais, o papa Francisco divulgou um documento no qual reconhece que “o mundo em que vivemos está entrando em colapso e pode estar chegando ao ponto de ruptura.” São “gritos de protesto” da Terra, disse Francisco. Ontem, o JN mostrou que os cientistas afirmam que 2023 caminha para ser o ano mais quente da história. Nesse contexto, todo reconhecimento ao esforço da mamãe quero-quero no centro de uma grande rotatória próxima à cidade de Caxambu (MG), que sombreava com o próprio corpo um ovo solitário para que ele não fosse literalmente cozido pelo calor absurdo.

O calor extremo castiga a mamãe quero-quero e a Amazônia – tanto que o governo do Amazonas estuda a possibilidade de remover comunidades inteiras que vivem da agricultura familiar nas áreas de várzea dos principais rios do estado; a conservadora Igreja Católica também reconhece a urgência climática; mas o agronegócio brasileiro faz lobby para ficar de fora do projeto que cria o mercado de carbono no Brasil.

No fundo, a gente trabalha também por reconhecimento. Assim, há que se valorizar as empresas com boas práticas que tiveram maiores retornos durante a epidemia da COVID-19, como mostra estudo dos pesquisadores André Carvalhal e Sidney Nakahodo, da COPPEAD/UFRJ. Há que se valorizar também a potência da mensagem da vice-presidente executiva da Apsen Farmacêutica, Renata Spallici, que, em artigo na IstoÉ, diz que “o envelhecimento da mulher no mercado de trabalho não deve ser considerado um fator limitante, mas uma fonte de riqueza e diversidade”.

É preciso reconhecer ainda o alerta do cirurgião Vivek Murthy, que declarou que há uma epidemia de solidão em curso. Segundo ele, o impacto na mortalidade de estar socialmente desconectado é semelhante ao de fumar 15 cigarros por dia. A reportagem da BBC traz um dado sobre os brasileiros: por aqui, 36% disseram se sentir sozinhos. O isolamento social, quando reconhecido, pode se tornar, assim, uma questão de saúde pública.

“A confissão das más ações é o primeiro passo para a prática de boas ações”, já ensinou Santo Agostinho, em Confissões, lá no século IV, entre a Antiguidade e a Idade Média. Eu confesso a minha preocupação, amigos! Reconheço os nossos esforços em prol da agenda ESG, mas cada vez mais me pergunto se são suficientes para mudar o destino das próximas gerações.

Por: Eduardo Nunes