Quando você abraça a campanha do Outubro Rosa, está pensando em todas as pessoas? Você apoia e incentiva a população travesti, transexual e transgênero a participar das ações de conscientização e informação sobre o câncer de mama pelo Brasil? Saiba que o seu apoio é importante, pois essas pessoas também podem ser acometidas pelo câncer de mama. E os principais fatores para afastá-las da prevenção ou diagnóstico são a falta de informação, a transfobia e o despreparo de profissionais da saúde no Brasil.
De acordo com o Ministério da Saúde, a estimativa é de 73.610 casos novos de câncer de mama em 2023, com um risco estimado de 66,54 casos a cada 100 mil mulheres. Quanto à mortalidade, os registros mostram que o câncer de mama ocupa a primeira posição em mortes por câncer entre as mulheres no Brasil, com taxa de mortalidade ajustada por idade, pela população mundial, para 2021, de 11,71/100 mil, equivalente a 18.139 óbitos.
Entre as mulheres cisgênero – aquelas que se identificam com o gênero que é designado a elas quando nasceram, o qual é relacionado socialmente ao sexo biológico –, o câncer de mama é o tipo mais presente da doença. Quando tratamos das pessoas travestis, transexuais e transgêneros – aquelas que não se identificam com o sexo biológico com o qual nasceram –, o cenário no Brasil fica ainda mais delicado. Essa população já passa de 750 mil pessoas, e muito pouco se fala em políticas públicas que permitam acesso à saúde para elas.
Prova disso é a não representatividade nas campanhas de conscientização para prevenção do câncer de mama, como o Outubro Rosa, que não chamam atenção de que a doença também pode acometer pessoas travestis, transexuais e transgêneros, sendo necessário se consultarem com especialistas em mastologia para a realização de exames periódicos, além de manter hábitos saudáveis no dia a dia. Uma pesquisa realizada em 2019 pelo Amsterdam University Medical Center, da Holanda, diagnosticou que as mulheres trans têm cerca de 47 vezes mais chances de desenvolver câncer de mama do que os homens cisgênero.
Uso excessivo de hormônios pode contribuir para o diagnóstico
A feminilidade é a busca da maioria das mulheres transexuais, e isso acontece com o desafio da automedicação e o uso, muitas vezes excessivo, dos hormônios de afirmação de gênero, para reduzir os sofrimentos psicológicos e trazer as mudanças físicas desejadas por cada pessoa. A transfobia estrutural na sociedade faz com que as pessoas não as enxerguem como mulheres, fato que muito contribui para a morte desta parcela da comunidade trans pela falta de diagnóstico. Outro marcador preocupante é que não há pesquisas direcionadas para os casos de câncer de mama na população trans no Brasil. A falta de acesso ao sistema de saúde, para esse tipo de tratamento faz com que a pessoa seja diagnosticada tardiamente e a doença seja descoberta em estágio avançado, o que diminui a possibilidade de cura.
Para os homens trans o risco é um pouco menor, para casos em que a pessoa passou por mastectomia bilateral (retirada das mamas). Mas, mesmo após essa cirurgia, é mantida uma pequena quantidade de tecido mamário e o mamilo, o que pode possibilitar o desenvolvimento de câncer nesse tecido remanescente.
Os homens trans que utilizam hormônios e não passaram pela mastectomia precisam fazer rastreio mamográfico periódico. O problema é, mais uma vez, a transfobia, que, neste caso, faz com que a pessoa não se sinta à vontade para determinados exames, pois a maioria dos serviços assistenciais não estão preparados para recebê-los adequadamente, e as campanhas de prevenção geralmente são pensadas para corpos femininos cisgêneros, que excluem essa parcela da sociedade.
Ailton Santos, coordenador do ambulatório Trans no Centro Estadual Especializado em Diagnóstico, Assistência e Pesquisa (CEDAP), na Bahia, lamenta o pouco acompanhamento médico recebido pela população trans brasileira.
“Aqui nós atentamos para a saúde dessa parcela da população. É importante debatermos o tema e aprendemos junto com essas pessoas. Ainda temos poucos dados disponíveis sobre o tema em questão, mas é importante que essas pessoas busquem os locais de assistência e que essas pessoas profissionais sejam capacitadas para o melhor atendimento às pessoas trans”, declarou.
É muito importante que todas as pessoas estejam atentas sobre o protocolo de realização do autoexame e, em caso de dúvida, buscar locais de acompanhamento para a realização de um acompanhamento especializado, a fim de minimizar e diagnosticar o câncer de mama. Quem utiliza prótese de silicone deve realizar exames periódicos para prevenção, pois este material tende a dificultar a observação de nódulos no seio, mas também deve praticar o autoexame.
Podemos dar esse toque à sociedade, para que sigamos na luta contra o câncer de mama salvando mais vidas, incluindo nas campanhas pessoas travestis, transexuais e transgêneros e pensando em corpos que sejam vistos socialmente.