Alguns dos principais episódios desta semana evidenciam o notório distanciamento das nossas lideranças – seja no âmbito global, regional ou local – da realidade das pessoas e dos territórios onde elas vivem. Essa desconexão fica ululante em diferentes situações. Dois exemplos notáveis explicitam a incapacidade da Organização das Nações Unidas (ONU), por exemplo, em responder à urgência da agenda real.
Após 20 dias de confrontos, o Conselho de Segurança da ONU ainda não conseguiu chegar a um consenso para aprovar uma resolução que possa contribuir para a resolução do conflito entre Israel e Hamas. Enquanto isso, vidas são perdidas e comunidades inteiras são devastadas na Faixa de Gaza; e centenas de judeus são mantidos reféns. A falta de uma ação eficaz evidencia a desconexão entre a retórica diplomática nas Nações Unidas e a realidade brutal no território palestino.
Ao olhar para as Conferências do Clima da ONU, tão exaltadas, inclusive aqui, também nos deparamos com um espelho desse contexto. Ano após ano, são poucos os avanços reais na discussão de questões urgentes, como a implementação de um mercado global de carbono, por exemplo. A COP28, que vai começar em 30 de novembro, não vai ficar fora da curva. Enquanto a retórica flui com naturalidade entre engravatados numa sala refrigerada em Nova York, as ações concretas passam despercebidas, e a um abismo de distância da realidade das pessoas. Essa desconexão entre as palavras e ações nos fóruns globais tem consequências graves para o nosso planeta e as próximas gerações.
Esse cenário, infelizmente, não é exclusividade dos fóruns globais. Na ‘terrinha’, essa desconexão se tangibilizou nesta semana no Rio de Janeiro, onde a população da Zona Oeste sofreu as consequências de uma onda de ataques da milícia a 35 ônibus e um trem. A violência e o medo se espalharam, afetando diretamente a vida de milhares de pessoas. No entanto, em vez de agir com soluções de segurança e sociais diretamente no território, o governador Cláudio Castro preferiu pegar um avião e ir a Brasília para apresentar ao Senado um conjunto de propostas para a segurança pública. Rendeu foto e matéria no jornal…
Nesta empreitada, como se não bastasse, o governador também sugeriu a criação de uma comissão mista especial, formada por deputados e senadores, para analisar as medidas com mais celeridade. Segundo matéria da Agência Senado, as propostas do governador do RJ têm como objetivo ‘gerar medo’ nos criminosos e inibir a atuação de milícias, traficantes e outras facções criminosas.
Em resposta, no dia seguinte (quinta, dia 25), o ministro Flávio Dino, da Justiça e Segurança Pública, disse ser a favor da volta da Secretaria de Segurança Pública no Rio de Janeiro. Agora sim! Com as propostas do governador, a comissão mista de deputados e senadores e a volta da secretaria, enfim, a população da Zona Oeste do Rio de Janeiro (certamente!) poderá se sentir (muito!) mais segura! Só que não…
Essas ‘ações’ da ONU e dos governos do Rio de Janeiro e federal aos desafios apresentados pela sociedade estão a léguas de distância de uma resposta para as pessoas. Na real, passam uma percepção de que estão absolutamente alheias às consequências reais de suas decisões.
Assim, torna-se urgente fazer com que essas lideranças atuem de maneira eficaz e responsável. De outra maneira, corremos o risco de ver um aprofundamento das crises e problemas que enfrentamos no Brasil e no mundo. A população merece líderes que estejam verdadeiramente comprometidos com seu bem-estar e capazes de traduzir palavras em ações concretas. Definitivamente, estamos muito distantes disso!
Bom fim de semana!