O ESG permeia todo o sistema nervoso central da política pública desenvolvida no país. Ou, pelo menos, deveria permear. No fundo, embora haja gestores, parlamentares, magistrados, membros do Ministério Público totalmente imersos na temática, uma grande maioria ainda não entendeu que não se trata de simples área de especialização, mas de uma convicção que só transformará as dores do Brasil se permear todos os planejamentos estratégicos em produção. A força do pensamento e da atitude ESG pode fazer com que se saia do egoísmo crônico para desejar efetivamente contribuir para um futuro sustentável. Se não foi o que aconteceu em 2023, que aconteça em 24.
Assim como empresas privadas estão, há meses, fechando os relatórios ESG para torná-los públicos no final do ano, também o Executivo, o Legislativo e o Judiciário precisam fazer um balanço das contribuições dadas para a sustentabilidade deste país. Quais foram mesmo? O que saiu do papel para o concreto? O que listar?
Sobre o trabalho parlamentar, que se inicie o ano com mais do que uma “agenda verde”, situada entre outras quinhentas pautas, mas com o propósito de trazer o debate ESG para o centro das discussões e decisões. E não pode ser algo superficial, apenas para constar. Lembrando aqui que, na Câmara, o relator da Reforma Tributária reclamava que todos os setores da economia o procuraram para trazer contribuições, mas que nenhum cidadão o procurou. Como assim, deputado? Em seguida, interpelado sobre cooperativas de catadores, acabou dando uma resposta evasiva. Não faço aqui crítica, mas um registro agora que novembro chega. Os setores são feitos de cidadãos. Decisão pública tem de proteger esses cidadãos.
No Senado Federal, os debates em torno da Reforma Tributária continuam sendo a grande pauta, merecendo atenção de lideranças como o relator Eduardo Braga (MDB/AM), o presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (PSD/MG), e o presidente da Comissão de Constituição e Justiça, Davi Alcolumbre (União/ AP). Naturalmente o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP/AL), e principais lideranças da Casa também permanecem envolvidos com tema econômico e com as articulações para votação de pautas do governo Lula. Há uma sobrevivência política e econômica em pauta. Mas é de se perguntar: há uma preocupação com a sustentabilidade do país?
No fundo, não há como descolar a pauta ESG de cada movimento político em Brasília. Talvez, entretanto, seja a hora de estabelecer no Congresso Nacional mais do que uma marqueteira agenda verde, mas um grande acordo para que se esclareça a cada nova proposta em debate, a cada discurso declamado no púlpito, de que forma contribuir definitivamente para um futuro sustentável.
Nem tudo é asfixia. Há movimentos que pulsam nos corredores de Brasília. Recentemente, o movimento Pacto contra a Fome trouxe, em debate sobre a Reforma Tributária no Plenário do Senado, a defesa da causa de uma cesta básica que garanta segurança alimentar para a população. Foram ouvidos atentamente pelo presidente do Senado. A cada mês, lufadas de ar como essa passeiam pelo Planalto Central. Pessoas bem-intencionadas, que carregam folhas A4 com fotos de parlamentares (carômetros) pra cima e par baixo, tentando identificar, por que não? Cooptar para causas aqueles que sejam realmente “sérios”. Pois não há seriedade sem ESG.
As chuvas atrasadas e o calor no Distrito Federal continuam emoldurando as selfies dos políticos com a população militante que os procura. É preciso sair da superfície das palavras para realizações que efetivamente tirem do papel os sonhos da sociedade justa, que tem recursos para saúde, educação, ciência, tecnologia, para obras de infraestrutura necessárias, para construir portos que não falem em depositar resíduos nas cavas subaquáticas. Sim. Até isso já passou pelos debates no Congresso Nacional.
Há lufadas de ventos e oxigênio que sacodem as cabeleiras em Brasília. É necessário, porém, a assinatura de um termo de compromisso real com o futuro do Brasil.