Novos dados divulgados pelo IBGE na semana passada ratificaram a persistência das desigualdades sociais no Brasil. Se você é branco e mora na Região Sudeste, a probabilidade de ter acesso a saneamento de qualidade é infinitamente maior do brasileiro preto, pardo ou indígena morador nas regiões Norte e Nordeste. Minha frase pode parecer óbvia, mas não deveria ser.
Vamos aos números. Pretos e pardos são 55% da população, mas representam 69% das pessoas que vivem sem esgoto adequado e 72% dos que não têm acesso adequado à água. Já os indígenas são 0,8% da população e representam 1,4% dos sem esgoto.
Em 3.505 municípios brasileiros, de um total de 5.570, menos da metade da população conta com coleta de esgoto. São 39 milhões de pessoas que recorrem a fossas rudimentares, e mais de 4 milhões têm rios, lagos ou o mar como destino de seu esgoto. O restante vai para valas ou outros tipos de locais de descarte não especificados. As regiões Norte e Nordeste, onde mora a maior parcela de pretos, pardos e indígenas do País, mostram as menores taxas nesse indicador, sendo o Amapá, em plena Amazônia, o estado com condições mais precárias de saneamento.
Analisando os gráficos apresentados pelo IBGE eu me vi de volta às aulas de Geografia que na minha época chamávamos de ginásio. Desde sempre, em todos os livros, os gráficos mostram as disparidades econômicas e sociais das regiões mais distantes dos estados considerados “mais ricos”.
Hoje a riqueza pode ser avaliada sob novas perspectivas. Falo da biodiversidade, da cultura, da vegetação, dos biomas, do patrimônio imaterial. Falo também da urgência de uma política de saneamento, que contribua para a preservação de nossos recursos naturais em biomas importantes como a Floresta Amazônica, o Cerrado e a Caatinga, cada dia mais ameaçados por questões diversas que todos já conhecemos. Como País, temos uma dívida gigantesca com os povos das regiões Norte e Nordeste, seja sob o ponto de vista social, econômico ou ambiental. Para a construção de um Brasil justo e igualitário, a aplicação nas letrinhas ESG deve ir muito além da Faria Lima. Essa é uma boa pauta para a COP-30, que está logo aí, em Belém.