7 de março de 2024 | Estratégia ESG, , ,

O Oscar e a inclusão até a ‘página 2’

Por Bruna Roque

Inclusão no Oscar até a página 2

Para se tornar um espaço verdadeiramente inclusivo, o Oscar, cuja cerimônia de premiação deste ano será no domingo (10/3), ainda tem um caminho muito longo para percorrer. Em 2014 e 2015, a hashtag #OscarSoWhite (#OscarMuitoBranco) foi o assunto mais falado no Twitter, e, a partir daí, a cerimônia buscou se reinventar e tornar-se mais inclusiva. Afinal, em quase um século de prêmio, apenas 87 pessoas negras receberam indicações nas categorias principais, e somente 9 mulheres foram indicadas à categoria de melhor diretor(a).

Os filmes indicados em 2024 refletem essa nova era inclusiva. Mas, ao mesmo tempo, não nos deixam esquecer do preconceito encrustado em 100 anos de protagonismo masculino branco.

Este ano, temos filmes que falam sobre feminismo e independência feminina, como ‘Barbie’, da diretora Greta Gerwig, e ‘Pobres Criaturas’, do diretor Yorgos Lanthimos. Ambos exploram a vida da mulher numa sociedade completamente machista, porém lúdica, e as dificuldades e desafios enfrentados por todo tipo de mulher: a representação da perfeição, no primeiro, ou uma mulher adulta com cérebro de bebê começando do zero, no segundo.

As mulheres no cinema lutam todos os dias para serem reconhecidas. Mas, apesar da ‘era inclusiva’, Greta Gerwig e a atriz Margot Robbie foram esnobadas em suas respectivas categorias. A Barbie não possui uma indicação em seu próprio filme, mas o Ken, interpretado pelo ator Ryan Gosling, sim.

Fato curioso – mais triste que curioso, na verdade – é que somente em 2010 uma diretora mulher recebeu sua primeira estatueta – Kathryn Bigelow, por ‘Guerra ao terror’. Desde então, seguimos com pouquíssimas indicações. Não à toa, em 2018, com refinada ironia, a atriz Natalie Portman anunciou o prêmio de direção daquele ano dizendo: ‘E aqui vão todos os homens indicados’. 

Mesmo com a tendência a inclusão e representatividade e a luta do Oscar de manter-se relevante, fica claro que as mulheres ainda não são vistas com a mesma seriedade, notoriedade e relevância pelo prêmio e pela sociedade cinematográfica. E quando o gênero se soma a outros marcadores sociais, a desvalorização fica ainda mais evidente.

Um exemplo disso é ‘Assassinos da Lua das Flores’, indicado a melhor filme no Oscar deste ano e que traz uma história real que precisa ser não apenas mais discutida, mas sobretudo mais conhecida. Na película, indígenas Osage começam a morrer misteriosamente, depois que alguns deles ficaram ricos com a descoberta de petróleo em suas terras. E com o passar dos anos, foram despertando a ganância dos homens brancos, iniciando um massacre silencioso.

Somente por seu roteiro, ‘Assassinos da Lua das Flores’ já escancara históricas assimetrias de poder. Mas as indicações ao Oscar já lhe deram um ‘título’, mesmo se nada ganhar: Lily Gladstone, que interpreta a Osage Molly, é a primeira atriz indígena norte-americana a ser indicada para o prêmio de melhor atriz na 96ª edição do prêmio.

Mais de nove décadas de premiação, e ainda ouvimos ‘a primeira’.

* Durante todo o mês de março, os editoriais da Estratégia ESG serão escritos exclusivamente por mulheres que compõem a equipe da Alter Conteúdo e convidadas. Mais do que uma homenagem ao Dia Internacional da Mulher, nosso objetivo é trazer reflexões variadas sobre a construção do feminino e suas implicações no dia a dia das mulheres.

Por: Bruna Roque