Não importa qual sua preferência para consumir informação, qual sua classe social, seu emprego, sua idade, seu gênero, raça, vocação… você sabe que precisamos mudar hábitos para conseguir viver melhor, e tornar isso possível para um número maior de pessoas. Repensando aqui o que acabei de escrever, diria que foi até um eufemismo. Na verdade, não se trata de “viver melhor”. Pra muita gente, quer dizer apenas conseguir viver.
Pense nas pessoas que ganham menos de um salário digno, ou aquelas em riscos constantes de eventos climáticos, aquelas que consomem menos de um mínimo de calorias por dia, ou a absurda quantidade de pessoas no mundo que ainda vivem sem água limpa e saneamento básico. Sinal de que falhamos miseravelmente quando atuamos hoje para criar futuros que caibam todo mundo.
Onde está, então, o problema? Difícil resumir em uma linha. Então, vou escolher um ponto para chamar a sua atenção, ponto este que eu tenho certeza que te incluirá, querido(a) leitor(a): a força do hábito. Acho difícil esperar que a gente mude o mundo sem mudar a nós mesmos. Longe de ser uma postura que abrace a árvore, a grande maioria das pessoas que hoje se senta numa cadeira de couro e usa canetas mais pesadas está acostumada com uma visita regada a desperdícios, conforto, consumo. Queremos uma vida ilimitada.
Se esses hábitos nos acompanham, difícil pensar em ‘racismo ambiental’ ou tantos outros termos ajustados para nos ajudar a pensar os dilemas e as urgências dos nossos tempos.
E será somente com um bocado de empatia que vamos conseguir acelerar mudanças, que sempre serão capitaneadas por pessoas físicas, mesmo que (e especialmente se) vestirem crachá.
Esse texto, portanto, conversa com essas pessoas em particular. Precisamos buscar realidades diferentes das nossas, mas entender de forma mais ampla esses impactos. Mais do que nunca precisamos nos fazer muitas perguntas, entender muitos porquês. Se fomos capazes de usar toda nossa criatividade e inteligência para chegar aqui, podemos usar as mesmas ferramentas para tomar decisões mais alinhadas a um contexto político, social e econômico que caiba mais gente.
Eu diria ainda que a maioria das pessoas que hoje toma essas decisões já construiu um bom patrimônio, capaz de permitir uma vida confortável na velhice. Não seria a hora, então, de construir um legado? Não acho sequer que essa seja uma boa trajetória – realmente entendo que a nova geração fará as duas coisas juntas –, mas essa é a rota que precisamos adotar agora. Perdemos as outras entradas.
Quando estamos perto de outras realidades, e as entendemos, fica mais fácil buscar soluções.
Não vamos nos esconder atrás de Conselhos de Administração, de acionistas, ou de qualquer outra desculpa para não fazer o que é certo. Sempre há a via do diálogo, a possibilidade de um capitalismo menos selvagem, e de usarmos todo nosso potencial para novos insights e caminhos que nos ajudem nessa busca.
A má notícia é que a sua decisão depende só de você. Entendo que nem sempre é um lugar quentinho e confortável, mas é um lugar absolutamente necessário.
Contamos com vocês. Aliás, vocês também podem contar comigo, pois eu também estou nesse lugar nada quentinho.
Viviane Mansi é executiva, professora, mentora e escreve regularmente para o Linkedin (como top voicer) e para a HSM Management
* Durante todo o mês de março, os editoriais da Estratégia ESG serão escritos exclusivamente por mulheres que compõem a equipe da Alter Conteúdo e convidadas. Mais do que uma homenagem ao Dia Internacional da Mulher, nosso objetivo é trazer reflexões variadas sobre a construção do feminino e suas implicações no dia a dia das mulheres.