Fonte de vida e sustento, é natural que povos originários associem a floresta a uma figura feminina. Os Yanomami e os Kayapó da Amazônia costumam usar metáforas maternas para descrever sua relação com o meio ambiente. Para o povo africano Baka, a floresta é considerada a mãe ancestral. Os Dayaks, da ilha asiática de Bornéu, também têm uma visão da floresta como uma mãe generosa, que fornece recursos e proteção.
Neste 21 de março, Dia Internacional das Florestas, com todo respeito pelas culturas tradicionais, permito-me pensar em alguns movimentos ativistas para proteger as florestas como uma relação de sororidade: de mulher para mulher. ‘Quando uma árvore queima, nosso corpo também é queimado’, disse Sônia Guajajara em sua palestra na Virada Ambiental Wired Conferece, em 2022. Essa frase me diz que minha reflexão faz sentido.
Hoje, a força das mulheres na política ambiental é inegável. Temos Marina Silva liderando o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), Ana Toni, como Secretária de Mudança do Clima, e Carina Mendonça Pimenta, na Secretaria Nacional de Bioeconomia. No comando da pasta dos Povos Indígenas (MPI), Sônia Guajajara. Mas, claro, queremos mais.
Até 2030, o Brasil planeja restaurar 12 milhões de hectares de florestas e outras paisagens, conforme delineado pelo Plano Nacional para Restaurar Vegetação Nativa (Planveg). Paralelamente, o Plano ABC também prevê a restauração de 15 milhões de hectares de áreas degradadas em todo o país durante o mesmo período. Nesse horizonte, que implica investimentos bilionários públicos, privados e filantrópicos, dá para vislumbrar inúmeras iniciativas que podem ser lideradas por mulheres da sociedade civil e do setor privado.
A importância das mulheres é gigante na bioeconomia – que utiliza recursos biológicos das florestas de forma sustentável para produção de bens, serviços e energia. A Fundação Amazônia Sustentável (FAS) mapeou iniciativas de mulheres de 172 povos indígenas para impulsionar negócios nos nove estados da Amazônia Legal. Foram identificados 10 eixos econômicos, entre eles atividades agrícolas e extrativistas, de manejo, moda, artesanato, e culinária. Aqui, é importante dizer que a aceleração de negócios dessa natureza é uma estratégia essencial para sustentar as florestas em pé. Na semana passada, a secretária de Políticas e Programas Estratégicos do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, Marcia Barbosa, disse, em reunião prévia do G20, que a bioeconomia pode gerar até R$ 500 bilhões por ano para o Brasil.
A Oxfam Brasil, organização da sociedade civil engajada na justiça rural, social, econômica, racial, de gênero e climática, produziu um material audiovisual cujo título utilizei para nomear este texto. O ‘Tem Floresta em Pé, Tem Mulher’ destaca o ativismo de líderes femininas quilombolas, reconhecidas como defensoras das florestas.
Compartilho duas citações desse mini-documentário, que ilustram por que as iniciativas de restauração florestal devem valorizar e promover a liderança feminina:
‘Nós mulheres somos muito resistentes. Que nem a floresta. A floresta só se dá por vencida quando vem a motosserra e joga ela no chão, mas tirando isso ela luta até enquanto ela pode’ – Ana Maria Leal, Quilombo Itacoã Mirim, Pará.
‘Não é uma luta por nós, apenas. Não é uma luta apenas para termos acesso a políticas públicas. Ou não é uma luta apenas para defender as árvores. É pela humanidade’ – Letícia Moraes, comunidade Nossa Senhora da Boa Esperança, Rio Pagão, Pará.
* Durante todo o mês de março, os editoriais da Estratégia ESG serão escritos exclusivamente por mulheres que compõem a equipe da Alter Conteúdo e convidadas. Mais do que uma homenagem ao Dia Internacional da Mulher, nosso objetivo é trazer reflexões variadas sobre a construção do feminino e suas implicações no dia a dia das mulheres