27 de março de 2024 | Estratégia ESG, , , ,

Quanto vale a palavra de uma mulher?

Por Nicole Gois

Mulher

Nesta semana, assistimos ao jogador de futebol Daniel Alves sair pela porta da frente da cadeia, na Espanha, de cabeça erguida, após pagar a fiança de 1 milhão de euros (cerca de R$ 5,4 milhões) para aguardar em liberdade a análise dos recursos da sua condenação por estupro.

Para além da discussão sobre a previsibilidade da decisão da Justiça espanhola no Direito, que permite esse tipo de privilégio a criminosos, o caso é mais um tapa na cara das mulheres que erguem suas vozes por respeito, dignidade e direitos. Estuprar uma mulher tem um preço, e ele não é pago atrás das grades. Daniel Alves, assim como o também ex-jogador de futebol Robinho, só foram condenados por abuso sexual porque havia provas mais robustas contra eles. Imagina quantas mulheres já passaram pelo mesmo e não conseguiram provar o que sofreram?

Eu nunca me esqueci do caso de João de Deus, em 2018, em que o número de mulheres que denunciaram o médium por abuso sexual chegou a mais de 300 (trezentas mulheres!!!), e mesmo assim, ouvia-se muita gente contestando a veracidade e acusando as vítimas de oportunismo. Aqui, a palavra de 300 mulheres valeu menos do que a de UM HOMEM.

Parece um absurdo culpar as vítimas quando se trata de crimes contra a mulher, mas constantemente (senão todas as vezes) elas são colocadas contra a parede: ‘Mas olha a roupa que ela estava usando! Se sabia do perigo, por que bebeu na festa? Diz que apanha, mas continua com o cara!’.

Nós mulheres somos questionadas a todo o tempo. Sobre nossas escolhas, nossa competência, nossos comportamentos. Tudo é passível de julgamento frente a olhares machistas.

Você pode estar pensando: ‘ah, mas eu não sou assim!’ Será mesmo? Quanto vale a palavra de uma mulher para você? Quando uma amiga desabafa estar sofrendo um relacionamento tóxico e abusivo, você a apoia ou diz que ela está exagerando? Quando uma mulher te alerta sobre uma piadinha machista, você reflete ou dá risada e argumenta que é só uma brincadeira? Quando sua mãe ou sua parceira se queixa do peso das responsabilidades domésticas, você escuta e se prontifica a fazer sua parte ou pensa que esse é o papel dela? Quantas vezes você deu mais credibilidade a opinião de um colega de trabalho apenas por ele ser homem?

Não sei quem é você na nossa sociedade patriarcal, mas eu gostaria de te pedir: escute as mulheres. Leia-as, entenda-as, se desconstrua. Não duvide do sofrimento delas. Troque o questionamento pelo acolhimento. Apoie. Defenda. Ajude a mudar a história.

Dizem que a mulher sempre quer ter a ‘palavra’ final em uma discussão ou impasse. Deve ser porque, muitas das vezes, a última palavra dita por uma mulher é ‘socorro!’. E ela não vale nada.

* Durante todo o mês de março, os editoriais da Estratégia ESG serão escritos exclusivamente por mulheres que compõem a equipe da Alter Conteúdo e convidadas. Mais do que uma homenagem ao Dia Internacional da Mulher, nosso objetivo é trazer reflexões variadas sobre a construção do feminino e suas implicações no dia a dia das mulheres.

Por: Nicole Gois