28 de março de 2024 | Estratégia ESG, , ,

O fim da razão dubitativa e o início da coragem

Por Flávia Chiarello

Faz tempo que não enfrento uma folha em branco. E há tempos não há mais tantas folhas em branco para serem enfrentadas. O mundo mudou e, com ele, as folhas deram lugar às telas de computador… algumas em branco, é verdade.

É esta que enfrento, agora, aos cinquenta e três anos. Jornalista formada, quase trinta anos em redações, a maior parte deste tempo, escrevendo e apresentando textos de tv: notícias das mais variadas formas e interesses.

Acontece que este, para não dizer quase todos os tipos de trabalho, nos afastam deste universo que abarca nossa escrita particular, nosso livro único, morada de difícil acesso na correria do dia-a-dia, uma casa tecida pela mais alta costura.

É deste lugar que escrevo, hoje. Para encerrar o mês que trouxe as mulheres em editoriais nesta newsletter. Convidada a nos homenagear, falar de nós que carregamos o estigma de conhecer bem as emoções e a lidar melhor com elas.

Não sou afeita a discursos que carregam o ativismo em si, mesmo reconhecendo sua fundamental importância no combate a desigualdades ainda muito brutais, seja em nível Brasil ou planeta.

Mas é que ouso sonhar para encerrar este mês de diferentes formas de celebrações. As que mostram que ainda é preciso lutar, as que mostram as vitórias, as que mostram o quão distante estamos do sonho de igualdade.

Sonho com discursos planetários, humanitários, sem fronteiras e nações, nos quais páginas em branco não mais precisem de ativismo e a igualdade seja tema já superado.

Imagino que não precisaremos, um dia, nos defender em tribos ou grupos, de mulheres, homens, pobres, ricos, negros, brancos. Não praticaremos mais visões reacionárias que tanto nos separam. Não teremos nações defendendo suas fronteiras, interesses e negócios e viveremos num espaço realmente sustentável, democrático e inclusivo.

Para tudo isso, é preciso coragem. Coragem para homenagear, neste mês de março, a todos da nossa espécie que tem coragem para recomeçar, tentar de novo, lutar por melhores dias, salários, melhores práticas ambientais, sistemas econômicos, gestões.

Coragem para abrir novos caminhos e enfrentar o escuro, o vazio, a dúvida da razão, os julgamentos, os erros, coragem para se enfrentar, para pedir ajuda e mudar.

Numa das tantas lindas poesias da mineira Adélia Prado ela comemora a chegada aos quarenta anos negando a faca e o queijo e pedindo a fome. Para Adélia, a coragem virou fome de viver. Para Guimarães Rosa, a coragem é ferramenta. No verso famoso de Grande Sertão Veredas, diz: ‘A vida é assim, esquenta, esfria, aperta e afrouxa, o que ela quer da gente é coragem’.

Neste fim de março de 2024, encerrando as ‘homenagens’ nesta newsletter, desejo coragem a todas as formas de inclusão, manifestações de amor, a todas, todos, todes, nós, seres humanos, que conduzimos quase que desgovernadamente este pequeno planeta rumo ao futuro. Que deixemos de lado as dúvidas e apostemos na ação.

Poucas palavras encerram o universo.

Coragem é uma delas.

* Durante todo o mês de março, os editoriais da Estratégia ESG serão escritos exclusivamente por mulheres que compõem a equipe da Alter Conteúdo e convidadas. Mais do que uma homenagem ao Dia Internacional da Mulher, nosso objetivo é trazer reflexões variadas sobre a construção do feminino e suas implicações no dia a dia das mulheres.

Por: Flávia Chiarello