A teoria de Gaya, também conhecida como a teoria da Terra ou hipótese de Gaya, é uma concepção que vê a Terra como um organismo vivo e interconectado, onde todos os seus componentes – biosfera, litosfera, hidrosfera e atmosfera – estão intrinsecamente ligados e interagem entre si para manter o equilíbrio ecológico. A teoria foi proposta pelo ecologista britânico James Lovelock na década de 1970.
Em uma conversa que tive com Rafael Borges, biólogo e pesquisador do Instituto Tecnológico Vale (ITV), ele comentou como é curioso observar como, 50 anos depois, a abordagem de Lovelock, considerada um tanto quanto ‘hippie’ no passado, vem ganhando cada vez mais importância diante dos problemas gerados pelas mudanças no uso do solo: a iminente insegurança alimentar e a crise climática. Antes tarde do que nunca.
É justamente por meio de uma abordagem holística no uso do solo que se baseiam os modelos de agricultura regenerativa, como os Sistemas Agroflorestais (SAFs). Explicando de forma bem resumida: ao incorporar uma variedade de espécies vegetais e animais em um mesmo sistema de produção agrícola, o SAF melhora os parâmetros de saúde do solo, aumenta a produtividade sem expandir a área produtiva (reduz o desmatamento), preserva e recupera a biodiversidade e os recursos hídricos, aumenta a qualidade e a segurança alimentar e recria um ecossistema integrado que diminui emissões e aumenta o sequestro de carbono no solo.
O Dia Nacional da Conservação do Solo, celebrado em 15 de abril, foi instituído no Brasil por meio da Lei Federal nº 7.876, de 13 de novembro de 1989, para conscientizar a sociedade sobre a pauta. Conservar o solo, no entanto, não significa apenas manter áreas florestais intocadas. Trata-se de transacionar dos modelos agronômicos tradicionais que, ao seguirem a lógica de mercado que prioriza a lucratividade em curto prazo, desmatam florestas, degradam o solo e emitem gases de efeito estufa, para os modelos de sistemas regenerativos.
Para mostrar o impacto socioambiental da adoção de SAFs para o cumprimeneto da meta brasileira no Acordo de Paris de recuperar 12 milhões de hectares de florestas até 2030, o Instituto Escolhas fez um estudo que mostrou que recuperar 1,02 milhão de hectares de área desmatada em pequenas propriedades, usando modelos de SAFs, pode gerar R$ 260 bilhões de receita líquida, remover 182,8 milhões de toneladas de CO2 da atmosfera e produzir 156 milhões de toneladas de alimentos para o país.
O ganho de escala da agricultura regenerativa no Brasil é uma das diversas oportunidades que o Brasil tem de liderar globalmente a transição para uma economia de baixo carbono. O estudo do CEBDS ‘Agricultura regenerativa no Brasil: desafios e oportunidades’, mostra projetos liderados por grandes empresas que seguem esse caminho. Vale a leitura.
A teoria de Gaya defende que o planeta é mais do que apenas um ambiente que suporta a vida; ele é, de certa forma, um organismo vivo que regula suas próprias condições ambientais para sustentar a vida. Regenerar os processos naturais da Terra em grande escala é um desafio tão complexo quanto eliminar o uso de combustíveis fósseis, mas é o que precisa ser feito para preservarmos as condições de vida humana como conhecemos hoje. Tomara que dê tempo.