Sabemos que o Brasil é uma mistura de raças, culturas e etnias. Mas já parou para pensar o quanto isso pode afetar o desenvolvimento pessoal e profissional de pessoas pretas quando se tem uma realidade de desigualdade e racismo operante no país?
Empresto para este texto parte da minha vivência e descoberta como um jovem negro, de pele parda, depois dos meus 25 anos. E compartilho um processo de autoconhecimento que me trouxe muitas explicações. Estudar o colorismo me fez ter um ponto de partida para entender meu lugar no mundo e começar a ter um sentimento de pertencimento que me trouxe melhores perspectivas.
Fruto da violência sexual de colonos brancos contra escravas negras, o colorismo não criou um convívio harmonioso entre os negros de tons de pele diferentes, mas uma hierarquização social. De acordo com os dados de raça/cor do Censo Demográfico 2022 do IBGE, os números mostram que 45,3% da população do país se declara parda e 10,2% preta. Logo, 55,5% da população se identifica como preta, sendo a grande maioria dentro do colorismo.
Filho mais velho de quatro irmãos, sem o nome do pai nos documentos, criado pela avó, descrevo a realidade de abandono paterno de mais 450 crianças que nascem por dia no Brasil sem o registro do pai na certidão de nascimento, segundo a Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen). Minha avó, branca, de olhos verdes, me deu de tudo, mas o pertencimento étnico-racial ela não podia dar.
Por que trago esses recortes da minha história? Para alertar sobre a importância de se reconhecer para se tornar um bom profissional, um bom filho, uma pessoa com senso crítico capaz de driblar os obstáculos do racismo ao buscar o desenvolvimento.
Que ao tentarem te colocar em uma escala de cores em que não se é tão escuro para ser preto e nem tão claro para ser branco, você entenda que pode ser o que quiser, apesar dos reflexos negativos de uma sociedade que ainda está aprendendo a se reconhecer.