Aqui está um paradoxo contemporâneo digno de registro: enquanto o Brasil enfrenta um aumento recorde nos problemas de hipertensão, cresce também a pressão para lidar com desafios igualmente cruciais. Segundo estudo do Instituto Nacional de Cardiologia, quase 28% dos brasileiros sofrem com hipertensão (dados de 2023), uma estatística alarmante, que reflete não apenas a saúde física, mas também o estado de tensão constante em que a sociedade se encontra. Um ponto preocupante do estudo foi o número maior de jovens de 18 a 24 anos com hipertensão.
A pressão, no entanto, é quase insustentável sobre milhões de pessoas que não têm condições de moradia no Brasil. Esta semana, a Fundação João Pinheiro (FJP) e a Secretaria Nacional de Habitação do Ministério das Cidades divulgaram que o déficit habitacional do Brasil em 2022 foi de 6 milhões de domicílios. A pressão por habitação digna se intensifica, especialmente entre pessoas com menor poder aquisitivo, mulheres e negros.
Agora, imagine a pressão sobre mais de 64 milhões de pessoas que vivem em lares com algum grau de insegurança alimentar (leve, moderada ou grave), como mostrou a Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua), divulgada esta semana pelo IBGE. Aqui, a pressão deve recair não só sobre governo e sociedade, mas também organizações e empresas. Não dá pra ficar passivo diante de um cenário grave como esse.
Esta não é uma questão trivial. O desafio da insegurança alimentar passa por reconhecer a complexidade das pressões envolvidas e a necessidade de ação coordenada visando não apenas para uma melhor distribuição de alimentos, mas a implementação de políticas que abordem as raízes do problema, como desigualdade de renda, acesso limitado a recursos e falta de investimento em agricultura sustentável, por exemplo.
Na agenda da produção mais sustentável, a pressão também aumenta. A recente legislação aprovada pelo Parlamento Europeu, que exige uma rigorosa supervisão das práticas sociais e ambientais das grandes empresas – como desmatamento, perda de biodiversidade, respeito aos direitos humanos e outros –, representa um avanço na direção certa. A partir de 2028, as companhias que atuam na comunidade europeia serão obrigadas a demonstrar conformidade com os critérios ESG, impactando diretamente as exportações brasileiras para a região.
Diante do turbilhão de desafios que nos assola, é como se estivéssemos em uma máquina de compressão, onde as pressões se acumulam e se multiplicam. É como se estivéssemos sendo formados sob calor intenso e alta pressão. Mas, como diz o ditado, é assim que os diamantes são forjados. E nós, como sociedade, estamos sendo moldados para nos tornarmos algo mais forte, mais resiliente e mais valioso.
Então, quando a pressão parecer insuportável, lembre-se: você está no processo de lapidação para se tornar um diamante brilhante e resiliente.
Bom fim de semana!
(*) Eduardo Nunes é parceiro da Alter Conteúdo