2 de maio de 2024 | Estratégia ESG, , , , , ,

A revolta da gambiarra

Por Matheus Zanon

O brasileiro tem pouca fé na gambiarra. Dotada de conotação pejorativa, o modo improvisado de fazer as coisas é sinônimo de má prática, principalmente no meio empresarial, no qual ‘processo’ é palavra de ordem. Mas convido a olhar a gambiarra de outro jeito: como o modo de fazer as coisas necessárias com as ferramentas e recursos disponíveis.

A gambiarra é a inovação da favela, de acordo com a reflexão de Hermes de Sousa, presidente do Instituto Cacimba, organização atuante em São Miguel Paulista, na capital de São Paulo.

O Cacimba é um instituto comunitário. Nele, os próprios moradores da comunidade escolhem projetos e iniciativas que receberão apoio financeiro para execução. É a contramão do modelo tradicional de filantropia, pelo qual pessoas distantes geograficamente das localidades decidem as ações que serão desenvolvidas nos territórios. O instituto faz parte do programa ‘Transformando Territórios’, do Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (IDIS) e da Charles Stewart Mott Foundation, que preconiza a criação e a estruturação de novas fundações e institutos comunitários (FICs).

Gambiarra, aliás, é o nome de um ateliê na Unidiversidade da Quebrada, projeto apoiado pelo Cacimba que faz parte do ecossistema de inovação e empreendedorismo que se consolida na Vila Nova União, localidade com 60 mil habitantes que anteriormente era um lixão. A Escola de Desnegócios e a Agência NUAR são outros projetos que dão ferramentas para que os moradores do bairro desenvolvam toda a sua potencialidade, com foco no fortalecimento da autonomia individual, social e dos vínculos comunitários dos jovens da quebrada.

Potência é a palavra que define os territórios periféricos. Inovação também. Sigla tão costumaz no meio empresarial, o ‘ESG da quebrada’ ganha outra conotação: Esperançar para a Sociedade Global, um projeto para replicar as transformações da localidade em outras favelas.

Afinal, na quebrada, o sucesso não deve ser solitário. Para ter valor, ele precisa ser compartilhado. É o ‘nós por nós’ e a aula de economia colaborativa para os executivos da Faria Lima.

Por: Matheus Zanon