4 de junho de 2024 | Estratégia ESG, , , ,

O capital precisa comparecer para sobreviver

Por Gilberto Lima

Realizada em junho de 1972, a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano é considerada um marco para a agenda climática, porque foi a primeira reunião em nível mundial que tratou da inclusão das questões ambientais no debate sobre desenvolvimento econômico. Porém, a formalização do compromisso do setor financeiro com o tema viria a acontecer quase 30 anos depois do encontro realizado em Estocolmo, na Suécia, com o lançamento dos Princípios para Investimento Responsável (PRI, na sigla em inglês), em 2006.

Com mais de 7 mil empresas signatárias em 135 países, o PRI tem como objetivo incentivar o setor financeiro a utilizar investimentos responsáveis para aumentar os retornos e gerir melhor seus riscos. No entanto, a emergência climática em que vivemos demonstra que a demora dos agentes do mercado em tomar ações práticas ainda persiste.

A resistência pode ser explicada pela dificuldade de se utilizar uma lógica puramente financeira de ‘precificar’ insumos indispensáveis para a economia e para as nossas vidas. Esse é o caso das soluções baseadas na natureza, que abordam os desafios sociais através de ações para proteger, gerir de forma sustentável e restaurar ecossistemas naturais e modificados, beneficiando ao mesmo tempo as pessoas e o meio ambiente.

Vejamos o exemplo da água. Além de ser um recurso vital para a nossa sobrevivência, é um insumo indispensável para a viabilidade de diversas atividades econômicas.

Existem atualmente mais de 200 iniciativas de soluções baseadas na natureza voltadas para a preservação de recursos hídricos e mantidas com recursos de pagamentos por serviços ambientais. Foi o que mostrou Miguel Milano, diretor da Permian Brasil, em seminário realizado em Rondônia que teve como finalidade debater as mudanças climáticas sob a ótica dos serviços ambientais.

Em uma primeira análise, o número citado por Milano parece expressivo. Mas nem chega perto de eliminar o risco de falta de disponibilidade e a qualidade dos recursos hídricos no país.

‘A maior parte da biodiversidade não entra no PIB, não entra na conta. Tem valor, mas não tem preço. PIB de água, sob muitos aspectos, é negativo porque não é disponível e não tem qualidade’, disse ele.

O executivo chama a atenção para a importância da aprovação pelo Congresso do projeto que estabelece o mercado regulado de carbono no Brasil, alinhado às metas do Acordo de Paris. Com isso, os créditos gerados por projetos de conservação, hoje restritos ao mercado voluntário, poderão ser negociados em outros países que já dispõem desse mecanismo.

O mercado de carbono, contudo, é apenas um guarda-chuva para viabilizar iniciativas que combinam conservação da biodiversidade e a perenidade de empreendimentos empresariais. Além do pagamento por serviços ambientais há o crédito de biodiversidade, que ainda não conquistou corações e mentes de investidores, mas são um instrumento poderoso para alavancar esses projetos.

Todos esses temas foram tratados nos dois dias do seminário organizado pela Permian Brasil, que reuniu especialistas, representantes do setor público e profissionais da área. Para quem tiver interesse, a íntegra da palestra está disponível no YouTube. Vale a pena conferir.

* Gilberto Lima é produtor de conteúdo, dono da Agência Celacanto, especializado em clima e finanças sustentáveis, e parceiro da Alter Conteúdo

Por: Gilberto Lima