O mantra ‘floresta em pé vale mais que desmatada’, insistentemente proferido por organizações da sociedade civil há décadas, finalmente chegou ao mercado. Nessa quarta-feira (12/6), durante a Sustainability Week, evento promovido pelo BID Invest em Manaus, a KPTL e o BID anunciaram a criação de um fundo para injetar mais de R$ 150 milhões em negócios de bioeconomia na Amazônia. Com capital inicial de US$ 11 milhões, a ambição é alcançar US$ 30 milhões nos próximos 18 meses.
Felizmente, não foi o primeiro fundo de investimento criado neste ano para a agenda da bioeconomia. Algumas iniciativas estão apostando no mecanismo de blended finance, que reúne recursos públicos, filantrópicos e privados para estruturação e fortalecimento de cadeias produtivas da sociobiodiversidade.
É o caso do Amazônia Viva, lançado em janeiro pela Natura, com a colaboração do Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (FUNBIO) e da VERT Securitizadora. Com a colaboração do Fundo Vale a uma parcela do fundo não reembolsável, o Amazônia Viva alcançou R$ 12 milhões no primeiro trimestre deste ano.
O mantra da ‘floresta em pé’ também chegou aos governos. Em março, os presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e da França, Emmanuel Macron, anunciaram um programa de investimentos de 1 bilhão de euros na bioeconomia da Amazônia brasileira e da Guiana Francesa.
No Dia Mundial do Meio Ambiente, 5 de junho, Lula publicou um decreto que instituiu a Estratégia Nacional de Bioeconomia no Brasil, a ser articulada com a sociedade civil e o setor privado. O documento fala em promoção à conservação e uso sustentável da biodiversidade, apoio à descarbonização dos processos produtivos e incentivo à inovação e à industrialização com base em recursos biológicos. Também prevê a criação do Plano Nacional de Desenvolvimento da Bioeconomia e de um sistema nacional de informações para apoiar a implementação da estratégia.
O próximo passo do governo brasileiro é posicionar o país como líder global na promoção da bioeconomia, aproveitando sua presidência rotativa do G20 para emplacar a agenda entre os países membros. A sociedade civil, a iniciativa privada e a academia têm colaborado nisso. Em 6 de maio, foi lançado o estudo ‘Bioeconomia Global – Levantamento Preliminar das Estratégias e Práticas do G20’, conduzido pela Nature Finance em colaboração com o Centro de Estudos em Sustentabilidade da FGV, representando 19 organizações.
O apelo é forte. O estudo destacou números expressivos publicados no relatório ‘State of the Global Bioeconomy’, no qual o Fórum Mundial de Bioeconomia estima que o setor possui um valor total de US$ 4 trilhões. Segundo uma pesquisa do Henderson Institute (BHI) do Boston Consulting Group, esse valor pode alcançar US$ 30 trilhões até 2050.
O Instituto Clima e Sociedade (iCS) publicou um resumo dos principais pontos debatidos no evento de lançamento. Entre eles, destaca-se a necessidade de políticas que promovam a conservação ea restauração dos biomas, incentivem a pesquisa e a inovação tecnológica e, sobretudo, garantam a inclusão e equidade na distribuição dos benefícios econômicos.
E não custa lembrar que é fundamental que a bioeconomia priorize as comunidades locais. Caso contrário, corre o risco de se tornar apenas mais um instrumento de exploração injusta e excludente, como tantos outros.