Paris 2024 foi planejada para ser a olimpíada mais sustentável já realizada, e os organizadores dos jogos anunciaram diversas iniciativas que, pelos menos, buscaram demonstrar seus esforços para cumprir esse objetivo. As ações utilizaram como princípio o conceito de ‘fazer mais com menos’, em alinhamento com as diretrizes do Comitê Olímpico Internacional (COI), de tornar o evento mais sustentável, econômico e alinhado com as necessidades das cidades-sedes e comunidades.
Uma das metas ambiciosas foi a de reduzir em 50% as emissões em relação às edições de Londres, em 2012, e do Rio, em 2016. Para isso, foi anunciada a intenção de contabilizar todas as emissões de carbono, incluindo emissões diretas e indiretas. Uma das principais frentes de trabalho nesse sentido foi o menor uso possível de novas construções.
De acordo com dados divulgados pela Reuters, a infraestrutura permanente foi responsável por 73% das cerca de 467 mil toneladas métricas de emissões de carbono geradas pelos jogos olímpicos de 2018 e 2023. Conforme estimativas dos organizadores da edição deste ano, a substituição do concreto por materiais de construção de baixo carbono, como madeira de origem sustentável, buscou reduzir em 30% as emissões da Vila Olímpica.
Em relação ao consumo de energia, foi anunciado o uso de 100% de fontes renováveis de origem local. No caso do Centro Aquático e da Vila Olímpica, foram instalados painéis solares, além de sistemas de resfriamento geotérmico nos alojamentos, no lugar de equipamentos convencionais.
Mesmo com essas iniciativas, o projeto não ficou livre de críticas. Ainda antes dos jogos, Beja Faeks, especialista em mercados globais de carbono da Carbon Market Watch, declarou que a estratégia climática de Paris 2024 era incompleta e carecia de transparência. O motivo seria a carência de metodologias claras e abrangentes de monitoramento e a falta de comunicação sobre seus resultados.
‘Nenhum jogo olímpico pode ser verdadeiramente compatível com os objetivos do Acordo de Paris, a menos que suas operações gerais sejam fundamentalmente reformadas’, disse Faeks.
Nessa mesma linha, Sven Daniel Wolfe, professor da ETH de Zurique, defende mudanças sistêmicas nesses eventos para que realmente ocorram reduções de impactos sociais e relacionados a emissões de carbono. As soluções em pauta vão desde a utilização de mais de uma cidade-sede ao uso de infraestruturas menores.
Por enquanto, o certo é que as cobranças em torno de resultados efetivos serão cada vez maiores nas próximas edições. Fica o desafio para os organizadores de Los Angeles 2028.
* Gilberto Lima é produtor de conteúdo, dono da Agência Celacanto, especializado em clima e finanças sustentáveis, e parceiro da Alter Conteúdo