Desde o início deste ano, representantes do Banco Central Europeu (BCE) vêm dando declarações de que, até o começo de 2025, a instituição pode impor multas diárias às instituições financeiras da região que não avaliarem adequadamente a materialidade dos riscos climáticos e ambientais de seus portfólios. Em entrevista ao Le Monde, Frank Elderson, membro do Conselho Executivo e vice-presidente do Conselho de Supervisão do BCE, disse que o valor das multas periódicas pode chegar a 5% do faturamento médio diário do banco.
A postura mais rigorosa do BCE reflete uma crescente preocupação de bancos centrais de todo o mundo com os riscos e os impactos impostos por eventos climáticos cada vez mais frequentes e extremos. Além das perdas de vidas humanas, tais acontecimentos comprometem sistemas produtivos, elevam gastos públicos e, consequentemente, afetam a estabilidade do sistema financeiro.
No Brasil, o Banco Central lançou consulta pública em março para aprimorar o Relatório de Riscos e Oportunidades Sociais, Ambientais e Climáticas, conhecido como Relatório GRSAC. Desde dezembro de 2020, a autarquia é apoiadora da Task Force on Climate related Financial Disclosures (TCFD), criada em 2015 a partir de uma demanda dos países do G20 para estabelecer diretrizes na consideração de riscos climáticos à estabilidade financeira.
Enquanto as instituições financeiras enfrentam uma pressão regulatória crescente para divulgações climáticas e gerenciamento de seus riscos relacionados, a disponibilidade e a qualidade dos dados continuam sendo obstáculos que ainda precisam ser superados. No entanto, mesmo quando os dados estão disponíveis, os usuários ainda seriam confrontados com a tarefa de identificar quais atributos e métricas seriam relevantes e adequados para várias atividades analíticas.
Esta é uma das conclusões do estudo ‘The climate data challenge: the critical role of open-source and neutral data platforms’, publicado pela UNEP FI, órgão das Nações Unidas que reúne instituições financeiras de todo o mundo em torno de ações voltadas para tornar as economias mais sustentáveis.
Esse exercício é frequentemente complicado por diversos formatos de como os dados relacionados ao clima são apresentados pelas empresas. Essa diversidade surge da falta de padrões universalmente aplicáveis e aceitos para avaliação de risco climático, conforme indicado por um estudo da Autoridade Federal de Supervisão Financeira Alemã (BaFin).
Por essa razão, o trabalho da UNEP FI tem como objetivo trazer um pouco de luz sobre essas questões para as instituições financeiras, mostrando os principais desafios e indicando caminhos em relação ao gerenciamento de dados climáticos críticos.
* Gilberto Lima é produtor de conteúdo, dono da Agência Celacanto, especializado em clima e finanças sustentáveis, e parceiro da Alter Conteúdo