4 de setembro de 2024 | Estratégia ESG, , ,

A crise climática não é neutra em gênero

Por Gilberto Lima

É crescente o número de investidores que percebem que gênero é um tema que pode ser integrado à agenda climática e oferecer retornos financeiros. A afirmação foi feita ao portal Impact Alpha por Sana Kapadia, líder do Heading for Change, fundo dedicado a investimentos que aceleram soluções climáticas e equidade de gênero.

O Heading for Change é resultado do trabalho de Suzanne Biegel, que dedicou sua vida para transformar as finanças em instrumento de inclusão e impacto. Por meio de sua consultoria, Catalyst At Large, Biegel trabalhou com diversas organizações, influenciando fundos e investidores institucionais para a gestão de bilhões de dólares de uma forma mais inteligente em termos de gênero.

Em 2021, ao ser diagnosticada com um câncer de pulmão, ela e seu marido, Daniel Maskit, tomaram a decisão de estabelecer um fundo voltado para investimentos e subsídios a soluções climáticas e de biodiversidade e equidade de gênero. Nascia, assim, o Heading of Change.

Além disso, seu trabalho resultou no 2X Global, criado em janeiro de 2023, oito meses antes dela falecer. É um padrão global para avaliar e estruturar investimentos que fornecem a mulheres oportunidades de liderança, emprego de qualidade, finanças, suporte empresarial e produtos e serviços que melhoram a participação econômica e o acesso. Desde então, o 2X Global vem sendo amplamente adotado por agentes do mercado financeiro e empresas ao redor do mundo, unificando investidores sob uma mesma estrutura e linguagem.

A equidade de gênero também está na agenda de organismos multilaterais, mais especificamente da International Finance Corporation (IFC), vinculado ao Banco Mundial e voltado para o incentivo do investimento do setor privado em países em desenvolvimento. Por meio do programa Gender x Climate, o IFC atua em pesquisa, capacitação e soluções para a inclusão de mulheres na economia verde como líderes e empreendedoras.

Diversas pesquisas mostram a necessidade de maior inclusão de mulheres e outros grupos desfavorecidos na agenda climática. Nesse sentido, a UN Women divulgou um estudo sobre violência contra mulheres e meninas no contexto da crise climática.

Outro trabalho, da IFC, mostra que os setores que mais atraem capital climático são também onde as mulheres estão menos representadas na liderança empresarial. Sem falar que apenas 7% dos fundadores de startups no setor energético são mulheres, de acordo com dados da Agência Internacional de Energia.

Esses e outros dados mostram que o investimento climático precisa ouvir – e incluir – as mulheres e outros grupos minorizados socialmente. Sem isso não há futuro justo e inclusivo de baixo carbono financeiramente viável.

* Gilberto Lima é produtor de conteúdo, dono da Agência Celacanto, especializado em clima e finanças sustentáveis, e parceiro da Alter Conteúdo

Por: Gilberto Lima