6 de setembro de 2024 | Estratégia ESG

Alienados e alienantes

Por Kalinka Iaquinto

2024, ano de eleições no Brasil. Mente, está vivendo uma realidade paralela ou se autoengana quem achou que o padrão dos últimos ciclos eleitorais não se repetiria. ‘Minions’ e ‘comunistas’, algumas das palavras usadas para designar — de forma ofensiva — aqueles que pensam diferente, definem dois lados.

Essa polarização recentemente ganhou novos contornos: na maior cidade da América Latina, São Paulo, as pesquisas mostram um empate técnico curioso. Um candidato da situação, o atual prefeito, partidário e apoiado pelo ex-presidente, de extrema direita; um deputado federal, aliado do atual presidente, de esquerda; e um ex-coach, influenciador e empresário, que apoiou o ex-presidente e que, agora, briga (?) com ele – e com quem mais passar pela frente.

Não pretendemos aqui fazer uma análise de quem vai ou não ganhar a corrida eleitoral na capital paulista. O que chama atenção é para onde todo esse contexto continua nos levando, já que mesmo entre os eleitores do candidato da situação, os arroubos do ex-coach são vistos com admiração.

O Brasil é um espaço rico para testes, para a propagação de teorias e ideias. Isso foi apontado por uma série de pesquisas.

No ano passado, o levantamento Tendências de Social Media 2023, da Comscore, destacou que o país ocupava a terceira posição no consumo de redes sociais. Já a pesquisa Truth Quest, da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), coloca-nos como o que mais acredita em desinformação (as fake news). O mesmo estudo destaca que, aqui e em alguns outros países da América do Sul, 85% dos entrevistados disseram se informar pelas redes sociais. Some-se a isso a briga que assistimos — não é de hoje — entre um bilionário norte-americano e um ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) envolvendo desinformação e uma rede social.

Por ser uma terra quase sem lei, a internet dá voz e vez a muitas pessoas que, com poucos cliques, buscam viralizar. O candidato ex-coach recentemente disse que para conseguir eleitores bastava se fazer de idiota. Segundo ele, ‘nossa mentalidade gosta disso’.

Pode parecer sem sentido, mas esse filme é repetido. O candidato domina as redes sociais, entende os algoritmos e foca em tudo o que pode gerar engajamento no ambiente digital. Não à toa, em entrevista para o Roda Viva, da TV Cultura, em vez de responder, cantou uma música do Racionais MC e explicitou que usaria cortes da entrevista para impulsionar suas redes.

A fórmula para o sucesso de alguns passa por estratégias persuasivas e controversas. Ao explorar fragilidades de seu público, ao se colocar como uma vítima que brada, ao trazer propostas superficiais e falar inverdades, o ex-coach reforça sua presença nas redes, atrai mais pessoas, ganha mais dinheiro e passa a ideia de despontar com um outsider. Mas, repetimos: a figurinha não é rara. E ainda é repetida.

Por: Kalinka Iaquinto