23 de setembro de 2024 | Estratégia ESG, ,

Muito além do ‘acordar no escuro’

Por Lia Ribeiro

Na última quinta-feira (19/9), o Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), liderado pelo Ministério de Minas e Energia (MME), se reuniu para debater a possível volta do horário de verão no Brasil. A recomendação foi uma iniciativa do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) diante da maior seca já registrada no país.

A medida, que vinha ocorrendo de maneira contínua desde 1985, foi revogada por decreto em 2019. Na época, o então presidente Jair Bolsonaro anunciou que, além de ter consultado um estudo realizado pelo MME, procurou também ‘gente da área de saúde’ para avaliar o impacto no ‘relógio biológico das pessoas’. A conclusão foi a de que o horário de verão não trazia benefícios nem para a economia e nem para a população.

O atual governo calcula que a volta do horário de verão pode gerar uma economia de até R$ 400 milhões nos próximos cinco meses. Não é muito se considerarmos os números do setor elétrico. No entanto, diante do cenário de sobrecarga do sistema e de recursos financeiros escassos, é uma cifra considerável.

Outro ponto que foi enfatizado pelo ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira é o de que a retomada do horário de verão reduz diretamente a demanda por energia e colabora para o não acionamento de usinas térmicas. Uma vez que as hidrelétricas não estão conseguindo operar na sua capacidade máxima, a saída seria utilizar a energia gerada pelas termelétricas que, além de encarecer a conta para o consumidor, estão entre as fontes de energia mais poluentes.

Vale lembrar que o horário de verão não é consenso entre a população. E isso conta muito para uma gestão que vem perdendo popularidade. Em pesquisa encomendada pela Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), cerca de 55% das pessoas eram a favor da medida. Estamos falando de trabalhadoras e trabalhadores de setores econômicos específicos que podem ser beneficiados – ou prejudicados – pela medida.

Os setores de turismo e comércio tendem a ganhar com mais pessoas circulando pelas ruas com o dia alongado. Já para a indústria e o agronegócio a medida não é muito sedutora, uma vez que a produção desses segmentos se concentra na manhã e na tarde.

Não se sabe quem vai ganhar essa ‘queda de braço’. De todo modo, fica aqui uma perspectiva de como a volta – ou não – do horário de verão vai muito além de acordar no escuro ou economizar energia elétrica. Disputas setoriais e pesquisas de opinião também contam. E muito.

Por: Lia Ribeiro