A COP16, realizada em Cali, está expondo uma verdade desconcertante: estamos longe de resolver a crise da biodiversidade. Embora metas ambiciosas, como proteger 30% das áreas terrestres e oceânicas até 2030, dominem os discursos, a realidade é que essas metas falham sem governança eficaz e ação coordenada.
No diálogo Sul-Sul, moderado por Madhu Rao, no pavilhão Brasil na tarde de quinta-feira, ficou claro que as OECMs (Medidas de Conservação Baseadas em Áreas Eficazes) são fundamentais para alcançar essa meta, mas enfrentam desafios práticos. Mesmo com avanços legislativos em países como Brasil e Colômbia, a implementação é limitada pela falta de recursos e coordenação entre os diversos atores. A governança compartilhada com povos indígenas é um conceito promissor, mas mal executado, devido à falta de apoio institucional e financiamento.
Esse cenário já seria preocupante, mas uma pesquisa apresentada pelo Museu de História Natural (NHM), tema de matéria do The Guardian vai além: nas últimas duas décadas, a biodiversidade declinou mais rapidamente dentro de áreas protegidas do que fora delas. Designar uma área como “protegida” tornou-se uma forma vazia de sinalizar compromisso sem ação concreta. As pressões econômicas – como concessões de petróleo e gás, corrupção e instabilidade política – continuam a corroer essas áreas. Na prática, em países ricos em biodiversidade, como Indonésia e Madagascar, as políticas são um fracasso retumbante.
Ainda mais absurdo é o fato de que os Estados Unidos, a maior economia mundial, permanecem fora da Convenção sobre Diversidade Biológica (CBD), um tratado vital para enfrentar essa crise global. Mesmo enviando uma delegação técnica para a COP16, o país não tem qualquer poder de decisão nas negociações. Isso não é por falta de interesse global, mas por causa de uma resistência interna arcaica que teme qualquer perda de “soberania”. Enquanto o Congresso americano se arrasta em debates obsoletos, o mundo enfrenta uma crise que, sem os EUA, jamais será verdadeiramente resolvida.
A América Latina, por sua vez, tenta avançar, como mostrou Carlos Eduardo Marinelli, da Secretaria Nacional de Biodiversidade do Brasil também no painel que discutiu unidades de conservação no Pavilhão Brasil. Iniciativas como o Programa Conecta são exemplos de esforços locais para integrar políticas ambientais e sociais. No entanto, sem uma articulação internacional robusta, esses avanços locais são minúsculos ante à magnitude do problema.
A verdade incômoda que emerge da COP16 é que, enquanto discutimos metas pomposas, a biodiversidade segue em queda livre. Sem liderança real, cooperação global e vontade política, os esforços continuarão a ser apenas promessas vazias.