Em meio à crise ambiental e climática, tão importante quanto angariar recursos é dispor de dados para tomar as melhores decisões. Lançado na última semana na COP16 da Biodiversidade, o Atlas Global de Ecossistemas pode ser uma nova bússola para esse propósito, ao guiar a gestão de áreas naturais no mundo. A ferramenta é o primeiro recurso harmonizado a mapear e monitorar todos os ecossistemas globais, apoiando sua proteção e restauração.
Utilizando observação da Terra, inteligência artificial e dados de campo, o atlas oferece informações sobre a extensão, condição e riscos dos ecossistemas. A iniciativa, que enfatiza a integração de dados, tem o potencial de transformar a compreensão e o monitoramento dos ecossistemas globais e foi desenvolvida pelo Grupo de Observações da Terra (GEO), coalizão que reúne mais de 100 governos nacionais.
Por décadas, a ausência de dados integrados tem sido uma queixa constante entre cientistas e tomadores de decisão, já que os ecossistemas transcendem fronteiras nacionais. ‘Compreender os ecossistemas sempre foi dificultado pela falta de dados e pela complexidade das partes interessadas, com muitos acreditando que chegar a um consenso sobre uma ferramenta comum era impossível’, afirmou Yana Gevorgyan, diretora do Secretariado do GEO.
Astrid Schomaker, secretária Executiva da Convenção sobre Diversidade Biológica (CBD, em inglês), destacou que a ferramenta, unindo dados em única plataforma, possibilita elevar as ações de proteção a um nível global e também avaliar quais países e ações estão, de fato, contribuindo. ‘O acordo que chegamos há dois anos é a estrada para vivermos em harmonia com a natureza até 2030. O atlas é uma parte desse caminho apenas, o resto depende de vontade política e ação concreta. O sucesso dependerá de nossa capacidade de trabalhar juntos, utilizando as melhores ferramentas disponíveis’, reforçou.
Assinado por 196 países, o Marco Global de Biodiversidade Kunming-Montreal estabelece metas para preservar e restaurar a biodiversidade até 2030, incluindo proteger 30% das áreas naturais terrestres e marinhas e restaurar 30% dos ambientes degradados. Contudo, o financiamento prometido, cerca de US$ 250 milhões, está muito aquém dos US$ 200 bilhões anuais necessários.
Resta saber se agora, com um mapa em mãos, esses valores prometidos vão conseguir, enfim, chegar aos ecossistemas da Terra.