Quando penso em pessoas negras no mercado de trabalho, em minha mente só aparece uma palavra: desafio.
O desafio de ser qualificado o suficiente para as organizações; de se superar todos os dias para se manter no emprego; de enfrentar preconceitos pela cor e pelos traços e, ainda assim, tentar manter a cabeça no lugar – algo difícil, confesso.
Parto da minha própria experiência, de quem enfrenta percalços desde os 17 anos, com empregos que não valorizaram meus conhecimentos e competências, mas exigiram uma perfeição não requerida aos demais colegas. E não é papo de vitimismo! Situações de racismo no trabalho são uma realidade para ao menos 60% dos profissionais negros, segundo pesquisa da consultoria Etnus.
Mas, apesar dos traumas, posso dizer que amadureci minha concepção sobre o que é gerenciar e trabalhar com empatia. Entendi que liderar com autoridade, e não autoritarismo, salva talentos. Hoje, vejo que esse aprendizado tem me tornado uma profissional melhor – e quem sabe um dia não serei uma líder exemplar?
Vamos aos dados: você sabia que apenas 8% dos negros ocupam cargos de liderança no Brasil? Isso mesmo! De acordo com uma pesquisa do Indique uma Preta e Cloo, a desigualdade racial ainda é uma realidade na configuração do mercado de trabalho. O estudo mostra também que muitos profissionais negros relatam uma vivência de sofrimento e insegurança psicológica devido à ausência de oportunidades de crescimento dentro das empresas.
Outro estudo, realizado pelo IBGE, evidenciou que embora negros e pardos sejam maioria no mercado de trabalho, o rendimento de brancos é 61,4% superior. Isso se dá porque boa parte dos profissionais negros e pardos acabam ocupando posições operacionais e raramente têm oportunidades de ascensão a cargos de liderança. Ainda segundo o IBGE, também é maior a proporção de pessoas negras ocupando vagas informais.
Logo, os desafios relatados no início deste texto vão além de uma experiência individual. Infelizmente, são uma realidade para muitas pessoas.
Mas gosto de pensar que realidades e culturas organizacionais podem ser mudadas. Podemos partir desses dados para transformá-los em soluções, seja por meio de programas de capacitação para profissionais negros, de vagas afirmativas, coletivos de diversidade dentro das empresas que promovam palestras e letramento racial, além de projetos de saúde mental para colaboradores de todos os cargos. Há muito para se pensar e agir!
Incentivo você, que lê este texto, a refletir sobre quantos profissionais negros existem em sua empresa. Quantos deles estão em cargos de liderança? Lembra de alguém que tenha obtido destaque em sua trajetória profissional, mas que não foi valorizado como deveria? Após essa reflexão, proponho o debate com o máximo de pessoas que você conhece! Quem sabe, assim, as próximas pesquisas possam apresentar resultados mais positivos?
* Em novembro, os editoriais da Estratégia ESG serão escritos exclusivamente por autoras e autores negras e negros. Um símbolo para que ultrapassemos — enquanto sociedade — as fronteiras do mês e tenhamos vozes negras sempre, ativas e ecoantes. Acompanhe conosco!