Quando pensamos na relação entre pesquisa e impacto social, somos direcionados a avaliar se o investimento feito realmente impactou positivamente aquela realidade. Mas podemos refletir sobre como determinadas pesquisas podem impactar socialmente.
Vamos de exemplos concretos. O Brasil não tem dados oficiais sobre a população LGBT+; assim, não sabemos quantas pessoas são LGBT+ no país. Isso impede a construção de políticas públicas garantidoras de direitos para essas comunidades. O papel de diferentes atores da sociedade civil tem sido o de cobrar o Estado, para que este, por meio do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) chegue a essas informações fundamentais para a cidadania LGBT+.
Eis que em 2022, a Havaianas, a All Out e o Datafolha realizaram a ‘Pesquisa do Orgulho’ e chegaram ao resultado que as LGBT+ eram aproximadamente 9% da população brasileira. Esse estudo vem sendo usado por diferentes atores para pensar na cidadania dessas populações. Um exemplo é que a conta sobre a sub-representação LGBT+ na política institucional usa esse dado como referência.
Desde 2016, o VoteLGBT tem se dedicado a realizar pesquisas que subsidiam suas ações de incidência e servem de evidências para diferentes atores que se dedicam às causas LGBT+. Em parceria com Rua Livre e Ben & Jerry’s, foi realizada a pesquisa ‘LGBTfobia no Carnaval de 2018’; esta trouxe dados que ajudaram a visibilizar violências sofridas por mulheres e LGBT+ nos blocos de rua de São Paulo.
Partindo dessas informações, a sociedade civil cobrou da prefeitura paulistana ações de maior segurança e comunicação social contra os assédios. No carnaval do ano seguinte era possível ver na cidade mensagens como ‘Paquera é uma coisa, assédio é crime’ com um canal de denúncia, além de uma unidade móvel com profissionais de diferentes áreas que tinham como objetivo prestar acolhimento e encaminhamento às mulheres que sofreram violência. O Ônibus Lilás esteve presente em pontos de maior concentração de foliões.
Uma pesquisa feita para ter impacto social tem de levar em conta as necessidades da sociedade, principalmente das populações minorizadas; deve ser pensada para amparar as lutas da sociedade civil. O seu resultado não pode ser aferido apenas pelo número de citações, como acontece no mundo acadêmico, mas sim quais os desdobramentos sociais passam a existir a partir dela.
Que possamos apostar mais nas pesquisas que impactam. Afinal, nem o Estado, nem outras instituições funcionam sem evidências científicas.
* Em novembro, os editoriais da Estratégia ESG serão escritos exclusivamente por autoras e autores negras e negros. Um símbolo para que ultrapassemos — enquanto sociedade — as fronteiras do mês e tenhamos vozes negras sempre, ativas e ecoantes. Acompanhe conosco!