18 de novembro de 2024 | Estratégia ESG,

Eu também ainda estou aqui

Por Rafaelly Barros

Te convido a ler esse texto ouvindo o álbum ‘Milagre dos Peixes’, de Milton Nascimento. Emblemático e certeiro – até no silêncio de algumas palavras. 

Historicamente, o Brasil foi virado em batalhas, vitórias e desafios enfrentados por pessoas negras que resistiram, lideraram e influenciaram os rumos do país. Mesmo assim, nossas telas permanecem, em grande parte, alheias a essas narrativas. As produções audiovisuais ainda insistem em uma representação embranquecida que invisibiliza as contribuições negras na construção do nosso passado e presente, sem olhar para o futuro.

É necessário perguntar: por que os heróis negros não estão presentes nas telas do audiovisual nacional?

Durante a ditadura, movimentos negros foram perseguidos e muitas pessoas negras desapareceram. Militares ‘temiam que os grupos seguissem os passos dos Panteras Negras’, como afirma o professor da Escola de Comunicações e Artes da USP, Ricardo Alexino Ferreira, em entrevista para à Rádio USP – e até hoje a população negra sofre com resquícios desse período.

Além de Carlos Marighella, cabe aqui destacar alguns autores que foram importantes durante esse período.

A antropóloga, professora e ativista Lélia Gonzalez dedicou sua vida a combater a opressão racial e de gênero. Ela foi cofundadora de grupos importantes como o Movimento Negro Unificado (MNU), no qual atuou como líder contra a ditadura, denunciando a falta de representatividade e os efeitos devastadores da discriminação.

Abdias do Nascimento, escritor, ativista pan-africanista, fundador do Teatro Experimental do Negro e do Museu de Arte Negra, foi preso após protestar contra a ditadura. E Joel Rufino dos Santos, por sua vez, foi um historiador e escritor comprometido com a democratização do conhecimento e a valorização da história negra. Ele também foi alvo de perseguições durante a ditadura, chegando a ser preso e exilado.

E antes da ditadura militar de 1964, não podemos nos esquecer do Almirante Negro, João Cândido, responsável por liderar a ‘Revolta da Chibata’ junto com seus companheiros. Ele protagonizou uma das histórias mais marcantes com muita coragem e resistência. Mas, assim como os demais, segue à margem das grandes produções nacionais.

resistência negra durante a ditadura, tanto pela ação de movimentos quanto por essas personalidades, é uma parte importante da nossa história, que permanece, em grande parte, desconhecida para muitos brasileiros. Para que essas histórias ganhem visibilidade e tela, é fundamental que o audiovisual rompa com essa narrativa excludente e busque uma representatividade mais inclusiva.

Apoiar produções que valorizem as trajetórias de lideranças negras – por meio de diretores, roteiristas e atores negros – é mais do que uma questão de justiça histórica; é um passo para construir um país onde a diversidade seja vista e onde a memória coletiva abrace todos os que fizeram e continuam a fazer parte da nossa história.

Porque os nossos passos vêm de longe e ainda estamos aqui.

* Em novembro, os editoriais da Estratégia ESG serão escritos exclusivamente por autoras e autores negras e negros. Um símbolo para que ultrapassemos — enquanto sociedade — as fronteiras do mês e tenhamos vozes negras sempre, ativas e ecoantes. Acompanhe conosco!

Por: Rafaelly Barros