Neste mês de novembro, refleti sobre o racismo estrutural e a inclusão de pessoas pretas no mercado de comunicação.
Sou publicitário da área de criação com mais de 30 anos de experiência em um segmento historicamente elitista, predominantemente branco e de difícil acesso a grandes empresas do segmento. Politicagem, indicações e poder aquisitivo muitas vezes determinam quem conquista um lugar ao sol.
Ao longo da minha trajetória, posso contar nos dedos os profissionais pretos com quem trabalhei. Alguns como colegas de equipe e pouquíssimos em posições de liderança.
Durante minha carreira, me desenvolvi e aprendi com excelentes mentores. Ganhei prêmios, estive em shortlists e participei de grandes projetos. Em algumas ocasiões, ocupei posições de liderança, embora nunca de maneira plena. Sempre havia um ‘porém’.
Muitas vezes, um homem preto defendendo conceitos e ideias com argumentos sólidos não é ouvido. Isso porque, para muitos, não é ‘natural’ ou ‘adequado’ que sejamos protagonistas nesse lugar. Quando expressamos nossos pontos de vista de forma mais enfática, rapidamente somos rotulados como pouco receptivos, petulantes ou até agressivos ao defender posições.
Hoje, vejo mais profissionais pretos atuando em diferentes áreas da comunicação, mas líderes ainda são raros. A justificativa habitual é que nem sempre atendemos aos requisitos para as vagas de liderança.
No entanto, será que um mercado que prega diversidade e inclusão não deveria assumir a responsabilidade de identificar, preparar e apoiar talentos pretos? Às vezes, tudo o que precisamos é de um voto de confiança. Nossa história já mostrou que a dignidade do nosso povo sempre nos impulsionou a ir além.
No imaginário popular, publicitários são vistos como os criadores de bordões que marcam a cultura pop, fomentadores de tendências como a própria propagação da diversidade e da inclusão. É urgente que, no mercado de comunicação, a inclusão e a igualdade racial se tornem mais do que conceitos ou frases de efeito. É preciso que essas iniciativas ganhem corpo e se tornem ações concretas, para que não corram o risco de morrer como mais uma ideia esquecida na gaveta.
* Em novembro, os editoriais da Estratégia ESG serão escritos exclusivamente por autoras e autores negras e negros. Um símbolo para que ultrapassemos — enquanto sociedade — as fronteiras do mês e tenhamos vozes negras sempre, ativas e ecoantes. Acompanhe conosco!