Pela primeira vez, foi decretado feriado nacional pelo Dia da Consciência Negra e o mês de novembro sempre pautado pela temática desse dia. Vejo campanhas nas mídias sociais, outdoors e comerciais televisivos. Todos se engajam para, de alguma forma, reafirmar que respeitam e defendem a causa, são contra o racismo e celebram a história do povo negro.
Tenho me perguntado há bastante tempo alguns porquês as visões sobre essa data e a forma de pertencimento ainda são pautadas somente na cor. Por que temos que reforçar o tempo todo quem nós somos? Por que, quando uma mulher preta chega ao “topo” é celebrada como a exceção? A resposta é simples: a injustiça social que perpetua nosso país, ainda que diverso em sua melanina. É simples identificar o motivo, mas é tão cansativo ainda lutar para ser reconhecida além da exceção.
Se vivêssemos a utopia do mundo igualitário, sem racismo, sem preconceito e tendo nossos direitos preservados como iguais na sociedade, não mais precisaríamos de datas para lembrar que também fazemos parte dessa sociedade e ajudamos a construir esse país. Não precisaríamos mais ser aplaudidos de pé por chegar em cargos de liderança pela nossa cor, subtraindo a nossa competência que foi o que nos levou até lá.
Eu gostaria muito que mudassem a seguinte narrativa que já ouvi em diversos lugares: “como eu fico feliz em chegar a um evento e vejo um painel cheio de negros”. Parece-me uma a visão de um explorador surpreso porque acabou de encontrar um tesouro excêntrico. Não somos “cases” de sucesso pela nossa cor. Porque quando alcançamos uma posição de destaque, nós celebramos porque nos empenhamos e sabemos a luta que foi para conquistá-la.
Eu, uma mulher de comunidade quilombola, não cheguei aonde estou com o por ser negra, eu consegui porque sou competente e caminhei muito para chegar aonde estou. Meu pai sempre dizia: você tem que estudar, porque somos negros, e a nossa cor em algum momento vai exigir um esforço maior. Gostaria que isso não fosse mais necessário, mas ainda é. Eu sempre fui em busca do conhecimento.
Eu gostaria muito que a sociedade refletisse sobre esses marcos históricos de forma genuína com a sede de fazer mais. Eu me pergunto se as datas comemorativas trazem realmente uma reflexão de luta e ancestralidade ou apenas reforçam o quanto ainda somos injustiçados e vivemos em um país desigual. Essa data é tão importante, mas ainda tão difícil. Ela precisa ser vista como oportunidade de mudança e, de fato, ter essa mudança no dia a dia.
A minha cor é meu orgulho e trago com ela tanto, mas sou além dela!
* Em novembro, os editoriais da Estratégia ESG serão escritos exclusivamente por autoras e autores negras e negros. Um símbolo para que ultrapassemos — enquanto sociedade — as fronteiras do mês e tenhamos vozes negras sempre, ativas e ecoantes. Acompanhe conosco!