29 de novembro de 2024 | Estratégia ESG, ,

Negro é a raiz da liberdade

Por Ariane Cruz

Chegamos ao final de mais um novembro, o Mês da Consciência Negra, e, por aqui, ecoaram múltiplas vozes, percepções, leituras e pesquisas sobre o tema e tudo que o atravessa.

O que esses conteúdos têm em comum? Todos foram produzidos por pessoas que se autodeclaram como negras. Mas, o que essas visões plurais querem dizer para nós? Basicamente que, sim, é preciso falar sobre a importância dos temas que dialogam com o Dia de Zumbi, 20 de novembro, data que relembra a morte, mas, sobretudo, a luta e a resistência do líder do Quilombo dos Palmares.

Mas, para além do óbvio ululante, essas visões alertam para uma perspectiva fundamental: é preciso dar espaços, ouvidos, e (mais) liberdade para as pessoas pretas.

O título desse texto é um trecho do samba ‘Sorriso Negro’, composto por Adilson Barbado e Jorge Portela. Mas, afinal, que liberdade é essa que a tanto almejamos?

Já não bastou a Lei Áurea? Não. Tomamos consciência, sim, a tal da consciência negra, de que ainda falta muito para ser alcançado, conquistado e ocupado por nós, e as pesquisas não nos deixam mentir. Em questões ligadas à diferença salarial, ou nos efeitos esmagadores do preconceito e da discriminação, a única característica em comum é a mesma que interliga os autores dos textos deste espaço no mês atual: os envolvidos são pessoas pretas.

Quando falo de liberdade, é sobre ser livre para ser o que quisermos ser, para escrever sobre nossos prazeres e aflições e, principalmente, para ter a liberdade de enaltecer mais as nossas alegrias e conquistas do que as nossas cicatrizes, em qualquer mês do ano. Tudo isso porque, ainda que o tempo passe e muitos aspectos e pensamentos estejam em evolução, o racismo persiste entre nós, nos magoa e tenta nos diminuir, diariamente, nas relações pessoais, familiares, amorosas ou profissionais.

A sensação, por muitas vezes, é de que a gente não tem para onde correr. De algum jeito, a cor da nossa pele se torna uma licença para que as pessoas tentem, novamente, tirar de nós o que há de mais digno no ser humano: a liberdade.

Nesta missão de vir aqui, neste espaço que nos é concedido de maneira merecedora e honrosa, para encerrar um mês caracterizado por ser afetuoso com as nossas dores e respeitoso com o nosso passado, no qual também somos plenamente reconhecidos como pessoas livres e capazes, venho deixar um recado que não contém ódio, mágoa ou revanchismo, mas, convicção: nada, nem ninguém, vai nos aprisionar novamente.

Por: Ariane Cruz