O propósito de uma marca reflete os valores de uma empresa e como ela quer ser reconhecida tanto por investidores quanto pelos seus mais diversos stakeholders, por meio de seus produtos ou serviços. Nos dias atuais, é inevitável que o processo de construção do propósito de uma marca envolva a inclusão de boas práticas ambientais, sociais e de governança, conhecidas pela sigla ESG.
É também inevitável que essa visibilidade envolva a assessoria de imprensa e o relacionamento com a mídia, em suas mais diversas plataformas.
Nesse contexto, o relacionamento com a mídia e com os demais stakeholders da corporação deve atender dois objetivos:
- Reforçar os propósitos sociais e ambientais de uma empresa
- Atrair investidores e clientes a uma organização comprometida com a meta de tornar o mundo em um lugar melhor e financeiramente viável
Pesquisa realizada pela Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje) com 79 grandes empresas localizadas no Estado de São Paulo indica que os principais motivos para se trabalhar os fatores ESG são o de causar impacto positivo tangível para a sociedade e alinhar-se aos objetivos, missão e valores da organização.
Além disso, a governança é o fator ESG que os comunicadores avaliam como o mais relevante atualmente para as empresas. Em linhas gerais, as empresas entendem que, em primeiro lugar, está a redução de riscos ao negócio, além da melhoria da reputação da organização e do cumprimento da legislação.
Cobrança por práticas ESG
Conforme já observado neste blog, há uma crescente cobrança de investidores por práticas ESG, o que obriga as marcas a serem mais transparentes sobre suas posições relacionadas a preceitos sociais, ambientais e éticos. Isso significa o desafio de apresentar resultados mensuráveis, que comprovem o compromisso das organizações com tais princípios.
O risco de não apresentar dados consistentes pode trazer como consequência o efeito contrário ao que se espera, e ter a reputação atingida pela prática de greenwashing. O conceito diz respeito à situação em que o posicionamento sobre temas ambientais, sociais e de governança está muito além dos resultados práticos apresentados.
No final das contas, o greenwashing é uma prática temerária, porque a disponibilidade de informações faz com que consumidores e investidores possam checar a coerência do discurso com a realidade. A imagem e a reputação da organização, portanto, se colocam em risco.
Como veremos a seguir, a relação entre práticas ESG e seus impactos na imagem e reputação junto a investidores é algo que não surgiu agora. E se tornará cada vez maior.
Investimentos SRI e sua origem
A consolidação do conceito de desenvolvimento sustentável levou gestores tradicionais de ativos financeiros a compor carteiras de investimentos a partir de princípios socioambientais. Esse movimento resultou na constituição do segmento no mercado de capitais conhecido como Investimento SRI, na sigla em Inglês que o denomina como socialmente responsável.
Os investimentos SRI têm uma longa história, e suas raízes mais recentes possuem origem em movimentos antiapartheid nos anos 1980 e se desenvolveram após escândalos causados por fraudes em empresas de auditorias no início dos anos 2000, nos Estados Unidos. Gestores especializados nesse segmento compõem carteiras com ações de companhias analisadas sob os aspectos ESG.
UNEP-FI e o engajamento do setor financeiro
As primeiras ações práticas por parte de organismos multilaterais surgiram no início dos anos 1990, quando o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP) anunciou a criação da UNEP Finance Initiative (UNEP-FI), que reúne e integra uma série de recomendações sobre aspectos ambientais para operações e serviços do setor financeiro.
A iniciativa também teve o objetivo de promover investimentos do setor privado em tecnologia e serviços em benefício ao meio ambiente. O UNEP-FI foi concebido para abranger o espectro mais amplo possível de instituições financeiras, bancos comerciais e de investimentos, gerenciadores de ativos, bancos de investimento e agências multilaterais.
No mesmo ano de lançamento da iniciativa, o UNEP e mais cinco bancos – Nat West Bank, Deutsche Bank, Royal Bank of Canada, Hong Kong & Shanghai Banking Corporation and Westpac Banking Corporation – prepararam um termo de compromisso, denominado “Declaração Internacional dos Bancos para o Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável”. Atualmente, cerca de 200 instituições financeiras de todo o mundo são signatárias da Declaração do UNEP.
Papel das empresas no Pacto Global
Em 1999, o então secretário geral das Nações Unidas, Kofi Annan, anunciou durante o Fórum Econômico Mundial (Fórum de Davos) a criação do Pacto Global. Lançada oficialmente no ano seguinte, na sede das Nações Unidas, em Nova York, a iniciativa teve o objetivo de chamar a atenção para o papel das empresas na adoção de uma série de valores fundamentais e internacionalmente aceitos em suas práticas de negócios.
O Pacto Global reúne 10 princípios que tratam de direitos humanos, relações de trabalho, meio ambiente e combate à corrupção, refletidos em 10 princípios:
Direitos Humanos
- As empresas devem apoiar e respeitar a proteção de direitos humanos reconhecidos internacionalmente; e
- Assegurar-se de sua não participação em violações destes direitos.
Trabalho
- As empresas devem apoiar a liberdade de associação e o reconhecimento efetivo do direito à negociação coletiva;
- A eliminação de todas as formas de trabalho forçado ou compulsório;
- A abolição efetiva do trabalho infantil; e
- Eliminar a discriminação no emprego.
Meio Ambiente
- As empresas devem apoiar uma abordagem preventiva aos desafios ambientais;
- Desenvolver iniciativas para promover maior responsabilidade ambiental; e
- Incentivar o desenvolvimento e difusão de tecnologias ambientalmente amigáveis.
Combate à corrupção
- As empresas devem combater a corrupção em todas as suas formas, inclusive extorsão e propina.
O Pacto Global partiu do princípio fundamental de que as empresas são protagonistas fundamentais no desenvolvimento social das nações e devem agir com responsabilidade na sociedade na qual interagem. A iniciativa conta com a participação de agências das Nações Unidas, empresas, sindicatos, organizações não governamentais e demais parceiros necessários para a construção de um mercado global mais inclusivo e igualitário.
As empresas participantes do Pacto Global são diversificadas e representam diferentes setores da economia, regiões geográficas e buscam gerenciar seu crescimento de uma maneira responsável. Para isso, procuram contemplar os interesses e preocupações de suas partes interessadas – incluindo funcionários, investidores, consumidores, organizações não governamentais, associações empresariais e comunidade.
Princípios do Equador reforçam compromissos
No primeiro semestre de 2000, o Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social conduziu no Brasil um processo de engajamento das empresas locais ao projeto proposto pelas Nações Unidas, que viria a resultar nos Princípios do Equador. O documento foi lançado oficialmente em junho de 2003, e adotado por diversas instituições financeiras globais.
Os Princípios do Equador foram assim denominados para reforçar a abrangência global de suas diretrizes, sendo a Linha do Equador escolhida para simbolizar o equilíbrio entre os dois hemisférios. As orientações se aplicam globalmente a todos os financiamentos de projetos, de todos os setores industriais, com custos de capital acima de US$ 10 milhões ou mais.
Os Princípios do Equador consistem em dez procedimentos de análise e execução de projetos:
- Análise e Categorização;
- Avaliação Sociambiental;
- Padrões Sociais e Ambientais Aplicáveis;
- Plano de Ação e Sistema de Gestão;
- Consulta e Divulgação;
- Mecanismo de Reclamação;
- Análise independente;
- Compromissos contratuais;
- Monitoramento Independente e Divulgação de Informações;
- Divulgação de Informações pelas EPFIs.
Rede de investidores com o UNPRI
Em complemento aos objetivos dos Princípios do Equador, a UNEP-FI e o Pacto Global das Nações Unidas lançaram, em 2006, os Princípios das Nações Unidas para o Investimento Sustentável (United Nations Principles for Responsible Investment, UNPRI na sigla em inglês). A iniciativa tem o objetivo de formar uma rede de colaboração para auxiliar investidores no cumprimento de seus compromissos como gestores e alcançar retorno sustentável de longo prazo.
Os signatários se comprometem com a inclusão de práticas ESG no processo de tomada de decisões, com base em seis princípios:
1) Incluiremos questões ESG em nossas análises de investimento e em nossos processos de tomada de decisões;
2) Seremos proprietários ativos e incorporaremos questões ESG em nossas políticas e práticas;
3) Iremos buscar a adequada transparência sobre questões ESG sobre as entidades nas quais investimos;
4) Vamos promover a aceitação e a implementação dos Princípios na indústria de investimentos;
5) Trabalharemos em conjunto para melhorar nossa eficiência na implementação dos Princípios;
6) Cada um de nós reportará suas atividades e progressos no sentido de implementar os Princípios.
Representantes de fundos de pensão, companhias de seguro, fundos soberanos e de desenvolvimento, gestores de investimentos e provedores de serviços em geral colaboram na formação dos Princípios. A finalidade de suas atividades no âmbito da entidade é estimular o interesse dos investidores em questões ESG, compartilhar as melhores práticas e apoiar os signatários em seu cumprimento.
As diretrizes estabelecidas ao longo dos anos 2000 foram um passo efetivo para a inclusão de práticas sustentáveis nas operações das instituições financeiras. Ao mesmo tempo, reforçaram a importância da comunicação e do relacionamento com stakeholders como fatores de fortalecimento da saúde financeira das organizações.