O que pesa no seu bolso é o que conta de fato, não é mesmo?.
De nada adianta falar sobre crise climática, refugiados do clima, transição justa, economia circular, se a ala do cérebro que cuida das finanças não raciocinar com essas questões postas na mesa de maneira mensurável.
O mercado de carbono está aí para provar. Se não houvesse a possibilidade de efetivamente ganhar com ele, empresas realmente teriam se mobilizado em seu favor?
O mesmo se pode dizer sobre novos combustíveis, sobre os produtos sustentáveis, sobre a onda ESG. Quem de fato se atentaria a implementar diretrizes ESG numa corporação, se as perspectivas de agradar os olhos de investidores como Larry Fink não lhe brilhasse os olhos, ou o medo de ficar para trás na tomada de recursos não lhe afligisse a conta bancária?
Para fazer sentido aos olhos e ouvidos da população, cientistas propuseram uma analogia financeira para explicar o esgotamento da Terra. Trata-se de uma métrica para calcular a data do ano em que nossas demandas por serviços e recursos naturais passam a superar a capacidade da Terra de se regenerar. Este ano ela acontece no dia 2 de agosto. Se pensarmos como se fosse uma conta bancária de onde tiramos os recursos para viver, em 2023, a partir de 3 de agosto esses recursos terminam e entramos no cheque especial. E há 20 anos pelo menos essa métrica finda no meio do ano.
A métrica começou a ser calculada em 1970, quando o esgotamento se deu no dia 29 de dezembro. De lá para cá fomos esgotando mais e mais o nosso “crédito”. E a fatura uma hora chega, com as temperaturas do planeta mais altas do planeta para um mês de julho nos últimos 174 anos.
Mesmo o mais endividado, o mais remotamente disperso com suas finanças sabe o que esgotar recursos significa. Ficar com o nome “sujo” na praça, parceiro. Perder a reputação, ninguém mais te financiar, te ajudar, te emprestar uma graninha, te abrigar. Não ter pra onde ir, o que comer, nem água pra beber, ou se banhar. Perder tudo. É disso que estamos falando.
Na semana que passou o padrão proposto para unificar as divulgações corporativas de sustentabilidade recebeu um forte endosso, com a Iosco, entidade que reúne os reguladores do mercado de capitais do mundo todo e abrange 95% do mercado financeiro global, pedindo a seus 130 integrantes que considerem adotar ou basear suas normas segundo as diretrizes recém-publicadas pelo International Sustainability Standards Board (ISSB).
Por enquanto, o uso desse padrão é voluntário, mas a expectativa é que agências reguladora, como a CVM no Brasil, incorporem a regra e passe a considerá-la, a partir de seus quatro pilares: governança, gestão de riscos, estratégia e metas e métricas.
Se os financistas não conseguiram enxergar pelas janelas a emergência em que estamos, será que agora a fatura vai lhe soar mais clara?