“Uma meta existe para ser um alvo
Mas quando o poeta diz: meta
Pode estar querendo dizer o inatingível”.
Gilberto Gil lançou a estrofe de “Metáfora” uns 30 anos atrás, mas parece ter inspirado as lideranças que participaram da Cúpula da Amazônia ao fechar a Declaração de Belém na quarta-feira (9). Poetas absolutos, deixaram as metas fora do acordo e traçaram belas palavras e conjunções positivas e esperançosas de futuro melhor em 113 parágrafos sobre 18 temas, entre eles mudanças do clima, proteção dos ecossistemas amazônicos, cooperação no combate a crimes ambientais e reconhecimento da cultura amazônica.
“Um dos pontos mais esperados pela sociedade civil era a forma como os países iriam se posicionar em relação ao combate ao desmatamento. A expectativa era que as oito nações se comprometessem com uma meta comum. O documento não traz isso”, comenta Cristiane Prizibisczki, do ECO, destacando a frustração de de diferentes organizações ambientalistas, que usaram expressões como “falho”, “desperdício de oportunidades” e “bonita carta de intenções” para classificar o documento, também chamado de “vago” e “fraco”.
Outro ponto que chamou a atenção foi a completa ausência de menção aos relatórios produzidos durante os Diálogos Amazônicos, que aconteceram em Belém entre os dias 4 e 6, reunindo 30 mil pessoas, representando as organizações civis de todas as frentes, em discussões densas e relevantes.
Os jornalistas especializados, que cobrem os temas de sustentabilidade, começaram a divulgar que o rascunho do acordo tinha vazado no domingo à noite, antes mesmo de os relatórios saírem. Mas esperava-se que fossem complementados ao longo da semana. Mas que nada. Foram apenas ratificados.
O Poder 360 destacou que há na Cúpula da Amazônia o mérito de ter mobilizado os países da região e a base do governo o tema. “Com a Esplanada dos Ministérios em peso na capital paraense, a cúpula, no entanto, não contribuiu com o objetivo de Lula se catapultar como grande liderança do meio ambiente mundial por conta do impacto limitado das propostas apresentadas nos documentos finais”, ressaltou.
Os dois principais objetivos do presidente nesta cúpula eram mostrar os resultados do que vem sendo feito no combate ao desmatamento aos europeus como forma de provar que o Brasil está disposto a avançar nas questões ambientais e, outro era chegar a uma posição conjunta dos países amazônicos, liderados pelo Brasil, a ser apresentada na COP28, que será realizada em Dubai, nos Emirados Árabes, em dezembro.
“Se você pegar a pauta de 14 anos atrás você verá que a questão ambiental entrou de uma forma muito tangencial. Se você pegar agora, é o tema central da cúpula: floresta, biodiversidade, bioeconomia”, comemorou a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, para quem a Cúpula foi um sucesso, mesmo sem uma linha na declaração final tratando sobre combustíveis fósseis ou desmatamento zero. Mudou a cúpula, mudaram eles, mudamos nós, mudou tudo. Só Gilberto Gil fica:
“Deixe a meta do poeta, não discuta
Deixe a sua meta fora da disputa
Meta dentro e fora, lata absoluta
Deixe-a simplesmente metáfora”