11 de agosto de 2023 | Estratégia ESG, , ,

Tudo que eu quero é ser um bom pai!

Por Eduardo Nunes

As lágrimas da minha filha Flora, de 9 anos, após o apito final e a desclassificação da seleção feminina de futebol da Copa do Mundo, na semana passada, representaram, para mim, a confirmação de um fato: as mulheres ocuparam finalmente um espaço no mundo machista do futebol brasileiro. Claro que ainda há muito a evoluir, mas a atual presença delas no esporte aqui na terrinha é um marco do empoderamento feminino. No papel de pai de duas meninas – muito além de ajudar a enxugar as lágrimas, cuidar e dar colo à minha primogênita –, celebro este momento com muita alegria.

A paternidade é transformadora para quem se permite ser conduzido pela onda. Depois do nascimento ou da adoção de uma criança, há pais que podem até amamentar – porque existem pais com identidade trans masculina. Ser pai não é ‘ajudar’ a mãe. Vai muito além disso. É estar presente em todos os momentos; é dar suporte em tudo que estiver ao alcance. Por isso é tão importante falar também na ampliação da licença-paternidade, que hoje é de apenas cinco dias.

No mundo corporativo, algumas empresas já atuam nesta agenda, concedendo prazos mais largos de licença para seus trabalhadores. Este ano, O Boticário colocou corajosamente o dedo na ferida, com uma campanha que vai além da singela homenagem aos papais e questiona o prazo de cinco dias. A empresa concede 120 dias de licença para seus colaboradores diretos, sejam homens ou mulheres.

Para tudo há um processo, e é preciso ter paciência. É uma jornada, a gente sabe. Mas, em algum momento, é necessário iniciar a caminhada, de modo que seja possível escalar degrau por degrau. Foi e ainda é assim com a Lei de Cotas nas universidades públicas federais, que depois de 10 anos incluiu quilombolas entre os beneficiários. Sem dúvida, um instrumento essencial em direção a um possível equilíbrio de forças em um país tão desigual como o Brasil. Para milhares de jovens (pretos, pardos, indígenas, pessoas com deficiência, quilombolas) de escolas públicas, é a única alternativa para cursar uma universidade.

Mas, a realidade para alguns desses jovens no Brasil e, em especial, no Rio de Janeiro, via de regra, é outra. Na segunda (7/8), o frentista Guilherme Martins, de 26 anos, foi enterrado. Ele foi assassinado por policiais no domingo, quando voltava para casa depois de comemorar seu aniversário. “Tudo o que meu filho queria era poder cuidar do filho dele. Só penso no menino, o que vai ser dele sem pai”, disse a mãe de Guilherme, Juliana Martins, em reportagem do G1.

Aos 26 anos (repito, propositalmente), Guilherme só queria ser um bom pai, mas a sua história foi abreviada pelas balas das armas de policiais, que disseram ter ‘confundido’ um celular com uma possível arma na mão do rapaz. Quantos Guilhermes ainda vamos perder até que seja possível mudar esse cenário trágico, onde a polícia mata os nossos jovens de forma tão banal?

Essa é a pergunta de um milhão de dólares, com muitas respostas, mas com pouquíssimas ações. Infelizmente, Guilherme deve virar estatística na investigação policial e o caso muito provavelmente vai cair no esquecimento. Mas, nada disso muda o fato de que o mundo também precisa de bons pais e de que nós ainda precisamos criar condições para isso.

Por: Eduardo Nunes