Na semana em que o Brasil registrou recorde de temperatura em pleno inverno – no Rio de Janeiro, por exemplo, foram 40˚C –, uma série de notícias relacionadas às mudanças climáticas fortalecem a narrativa e as estratégias em torno da agenda ESG no país.
O cavalo está passando encilhado, e quem diz isso é o Fórum Econômico Mundial. O relatório ‘Encontrando Caminhos, Financiando a Inovação: Enfrentando o Desafio da Transição Brasileira’ posicionou o Brasil como um grande candidato para ser campeão na agenda climática. ‘A oportunidade é boa demais para ser desperdiçada’, disse Kai Keller, líder de engajamento empresarial, estratégia regional e parcerias do Fórum.
Do lado do governo, houve um avanço nessa agenda, com a apresentação de uma versão atualizada do projeto de lei que institui um mercado de carbono no Brasil, como um ação dentro do chamado Plano de Transformação Ecológica. Um diferencial importante é que os direitos de populações indígenas e tradicionais foram contemplados no texto.
De acordo com o assessor especial do Ministério da Fazenda, Rafael Ramalho, a ambição do governo é que o Plano vá além da descarbonização da economia, promovendo desenvolvimento social e econômico. “Todos os setores serão impactados. O conjunto da obra é muito transformador”, disse ele, ao Valor.
Embora o Plano ainda careça de detalhamento, sabe-se da urgência no combate ao desmatamento ilegal e na transição do modo de produção do setor agropecuário. Para isso, serão necessários investimentos da ordem de R$ 1 trilhão até 2030, estima estudo do Fórum Econômico Mundial. A conversa gira e quase sempre termina em dinheiro. E, aqui, consideram-se investimentos externos, financiamento de bancos e também do governo. Nesse contexto, cresce a expectativa para a primeira emissão de títulos públicos verdes, prevista para os próximos meses, que deve ser acima de US$ 1 bilhão, com taxa de retorno de até 8% para os investidores.
Como se vê, há uma série de movimentos em direção à agenda ESG que evidenciam as oportunidades que o processo de transição da economia proporciona. Para isso, serão necessários também ajustes e adaptações, como os anunciados pelo secretário-geral da International Organization for Standardization (ISO), Sergio Mujica, em relação ao portfólio de normas técnicas da organização, com produtos e processos mais ajustados às exigências da crise climática em curso e à busca do status net zero.
Para montar o cavalo encilhado, é preciso se adaptar e fazer investimentos. Quem sair na frente fica em vantagem. Diz o provérbio que o cavalo encilhado não passa duas vezes.