30 de agosto de 2023 | Estratégia ESG, , ,

Haddad e a onça da transformação ecológica

Por Fernanda Lambach

Não se impressione quando surgirem na sua frente personagens azuis de Avatar. O filme acaba. As luzes acendem. A sala de cinema esvazia. Quem pretende transformar esse mundão de meu Deus não se espanta com a pirotecnia em torno do ESG. O pé está na terra. A cabeça traça o plano. Há muito trabalho simples a ser feito. Há política pública a desdobrar. Há decisores para informar. E, é claro, há muita fake news a combater.

Vale exemplificar com uma história que pode continuar a ser assistida por você, leitor, via internet. Acompanho há tempos, pelas redes sociais, os fundadores do criadouro conservacionista Instituto Onça-Pintada (IOP), marido e mulher, gerindo em seu microcosmo todas essas dimensões. Se alguém vive o ESG é a família Jácomo.

Aliás, é de uma responsabilidade hercúlea fazer o que fazem. Garantem desde o alimento para os animais que acolhem até a eterna desconstrução de mitos em torno dos grandes felinos. Realizam pesquisas nos corredores ecológicos do Araguaia, colocam armadilhas fotográficas, identificam onças para acompanhar sua jornada, municiam órgãos de fiscalização e controle, como o Ministério Público, com informações sobre sustentabilidade e proteção do meio ambiente.

Leandro e Anah Tereza Jácomo decidiram educar o filho Tiago, hoje um jovem influencer premiado no mundo digital, enquanto construíam espaço adequado para receber não apenas felinos, mas também aves, lobos-guarás, roedores, macacos na região de Mineiros (GO). Desde quando chegaram os três primeiros filhotes de onça, encaminhados pelo órgão ambiental, até agora, o criadouro conservacionista cresceu, ganhou notoriedade na internet e até alguns haters (afinal, toda unanimidade é burra).

Os três estão longe de querer domesticar ou humanizar as pintadas. Mas usam técnicas para o convívio frequente, bem como enriquecimento ambiental que permite ter a confiança dos bichos, realizando ações como a de passá-los de um recinto a outro sem precisar de sedação. Há planejamento, metodologia, processos e fluxos que vão aparecendo dia após dia nas redes sociais.

Ouvindo recentemente o ministro da Economia, Fernando Haddad, falar da parceria com o Ministério do Meio Ambiente ao anunciar o Plano de Transformação Ecológica, as imagens do IOP, recheadas de disciplina diária, sacrifício e — por que não? — alegria em trabalhar até não aguentar mais me vieram à mente.

Segundo Haddad, o Plano de Transformação Ecológica vai muito além da transição energética ou da substituição dos combustíveis fósseis pela energia renovável. “Trata-se de uma proposta que proporciona uma nova maneira de pensar, governar, empreender, viver e agir ecologicamente para que o desenvolvimento econômico e social caminhe de mãos dadas com a preservação ambiental.”

Começam a correr em Brasília notícias de que o Ministério da Fazenda deverá apresentar, muito em breve, detalhes do plano. Aguarda-se que o ministro trate de taxonomia verde, green bonds, entre outros temas. Não se sabe, entretanto, cochicham consultorias políticas nos bastidores, se economia circular e mesmo combustíveis estarão listados no primeiro momento.

O que se sabe é que, assim como no IOP, se quiser implantar seu plano, Haddad terá de conviver muito bem com as feras e driblar armadilhas. Para não deixar a política pública para a economia e o meio ambiente nunca mais se separarem poderá se inspirar na resiliência dos Jácomo. Afinal, terá trabalho, necessidade de informar, ser ouvido e de exemplificar. Terá ainda mais política pública para desdobrar e outros públicos a persuadir. E, é claro, haverá fake news a serem desconstruídas.

Que Avatar que nada! Haddad terá de virar onça.

Por: Fernanda Lambach