18 de outubro de 2023 | Estratégia ESG, , ,

Quanto tempo o tempo tem?

Por Kelly Lima

Qual o tempo de um estalo? De um míssil. De um trovão. Ou de uma bomba.

Quanto tempo para secar um rio, derrubar uma árvore, estancar uma dor?

Quanto tempo para reconstruir uma cidade, uma floresta, uma vida?

De quanto tempo você precisa para enxergar que todo o tempo do mundo pode não ser suficiente? E que o tempo de hoje é o único que pode garantir o de amanhã?

Desculpem a introdução incerta, vaga, e a prosa descrente. Mas as imagens que torpedeiam a retina, vindas do Oriente Médio, da Amazônia, do Sul do País, ou da favela mais próxima, impedem elocubrações mais otimistas sobre os temas ambientais, sociais ou de governança.

Como falar de ESG num mundo pós pandemia em que nos assombramos com terrorismo, barbárie e uma matança desmedida? Como traçar planos de um futuro pautado pela sociobiodiversidade, ante uma seca histórica e enchentes avassaladoras? Como não se abismar com a força desenfreada da crise climática que consegue secar os colossais rios amazônicos?

O que, de mais óbvio, é preciso para mover a humanidade, os governos e as empresas por objetivos comuns? A transição energética parece nunca começar, a desigualdade social nunca diminuir. E o tal do ESG parece estar virando pó de marketing, ilustrando belos relatórios de sustentabilidade, subjetivos em metas corporativas e insossos em transparência.

Estudo da Associação Soluções Inclusivas Sustentáveis (SIS) analisou 60 das maiores companhias da Bovespa, que representam 56% do valor total de mercado das mais de 400 companhias presentes no mercado de capitais. O resultado é que 52 contam com relatórios de sustentabilidade. Sete das oito que não possuem relatórios atuam em setores de alto risco ambiental.

A falta de transparência ou compromisso dessas empresas poderia ser interpretada pela célebre frase do embaixador e então ministro da Fazenda, Rubens Ricupero, em 1994, nos bastidores de uma entrevista televisiva: “O que é bom a gente fatura, o que é ruim a gente esconde”.

Essa semana, o mesmo Ricupero, analisando a crise no Oriente Médio, com seu conhecimento técnico de geopolítica, lançou uma frase impactante, essa não de bastidor, mas colocada cirúrgica e tristemente sobre Gaza, em entrevista à Daniela Chiaretti: “Eles não têm muito o que perder. Querem uma solução definitiva”.

E você? Pensa que também não tem nada a perder, ou que tem tempo para perder não pensando nisso?

Por: Kelly Lima