Na semana passada, a Fundação Leão XIII, órgão de assistência social do governo do estado do Rio de Janeiro, lançou a exposição fotográfica “Dignidade em acolhimento: você me vê?”, na qual retrata o cotidiano de idosos acolhidos pela instituição. O lançamento foi precedido pela roda de conversa “Café com longevidade e os direitos das pessoas idosas LGBTI+”
Dentre tantas falas no debate, uma chamou atenção: há famílias que, em busca de uma vaga nos abrigos da instituição para um/a idoso/a em situação de vulnerabilidade, omitem a sexualidade dessa pessoa quando se trata de alguém LGBTI+. O motivo? Medo de que tal informação faça essa pessoa não ser aceita como interno/a.
No movimento LGBTI+, um aspecto celebrado na garantia de direitos civis igualitários é a “saída do armário”. Ao assumirem publicamente seu gênero e sua sexualidade, pessoas LGBTI+ costumam dizer que se libertam de um peso que carregam intimamente por terem de dissimular quem de fato são. Mas essa atitude, que é individual e privada, também beneficia as reivindicações sociais e políticas dos grupos organizados que lutam pela igualdade de direitos, independentemente de gênero ou sexualidade.
No entanto, causa dor ver que, com a passagem do tempo, pessoas LGBTI+ muitas vezes têm de “voltar para o armário” – ou ser colocadas nele por outros – para garantir seus direitos básicos. Afinal, é um dever do Estado (ou deveria ser) dar condições de vida a qualquer pessoa, seja lá de qual gênero, raça ou sexualidade for. Quando isso não acontece – ou quando famílias acreditam que ser LGBTI+ pode tirar de uma pessoa esse direito básico –, é preciso corrigir rumos, nas instituições, nas corporações e na sociedade em geral.
E não se trata apenas de idosos/as em situação de vulnerabilidade. Estudo do Conselho Nacional do Envelhecimento (NCOA) dos EUA mostrou que pessoas LGBTI+ deixam o mercado de trabalho mais cedo e têm mais dificuldade para pagar despesas de saúde, além de enfrentar o dobro de situações de preconceito em comparação com indivíduos heterossexuais da mesma idade.
Segundo o levantamento, pessoas LGBTI+ acima dos 60 anos afirmaram estar encarando reveses financeiros que terão impacto em seu bem-estar a longo prazo. Uma em cada três havia abandonado o emprego por questões de saúde; e uma em cada seis havia sido “forçada” a sair de cena e se aposentar.
O Brasil ainda não dispõe de pesquisas similares. Mas, como destaca o Blog do Bem Estar, o estudo norte-americano serve como uma bússola. Vale lembrar que o Censo 2022 mostrou que a população brasileira está envelhecendo rapidamente. Assim, é preciso que o país se prepare para essa realidade. E esse movimento, que não é exclusivo do poder público e envolve todos os agentes sociais, incluindo as empresas, não pode deixar de fora pessoas mais velhas por causa de seu gênero e/ou sua sexualidade.
PS: Parabéns à equipe do Inep pelo tema da redação do Enem em 2023 – ‘Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil’. Um tema que já foi tratado aqui e que mostra mais um desafio que temos pela frente.
Boa semana!