Em meio a mais uma onda de calor devastadora, a humanidade continua subestimando os impactos avassaladores da crise climática. As mudanças climáticas, uma realidade inegável, não apenas alteram os padrões meteorológicos, mas também lançam uma sombra escura sobre setores cruciais da economia e afetam diretamente o bem-estar humano. À medida que os termômetros sobem, os custos também aumentam, e os impactos se infiltram em cada canto da sociedade.
A escalada nos custos de energia, especialmente com o aumento do uso de ar-condicionado para combater temperaturas extremas, é apenas a ponta do iceberg. Setores como construção civil, têxtil, calçados, plásticos, supermercados e seguros sentem o calor da crise climática, como destaca matéria da Folha. O aumento da temperatura não é apenas um incômodo, mas um desafio crescente para a economia global.
Ontem, a Folha noticiou a amplitude dos estragos, desde o represamento de vendas no varejo até motores de aviões perdendo eficiência devido ao calor excessivo. No entanto, é no setor agrícola, o motor da economia brasileira, que os impactos são mais alarmantes. Uma pesquisa da Bayer, divulgada pelo Valor, revelou que, nos últimos dois anos, os produtores rurais estimam ter registrado uma queda de 15,7% no faturamento de suas colheitas devido às mudanças climáticas.
O IBGE também trouxe más notícias, anunciando que a instabilidade climática, como o excesso de chuvas na região Sul, está afetando as culturas de verão, o que impedirá uma safra recorde de grãos em 2024. O setor agrícola, já pressionado, enfrenta dificuldades crescentes para garantir a produção de alimentos necessária para alimentar uma população em constante crescimento.
A preocupação com a segurança alimentar ganha contornos globais diante da estimativa da Food and Agriculture Organization (FAO), de que a produção de alimentos precisa aumentar em cerca de 50% até 2050 para alimentar uma população que deve atingir 10 bilhões de pessoas. A crise climática torna essa missão ainda mais desafiadora, como apontado por especialistas como Paulo Nussenzveig e Raúl González Lima em artigo na Folha.
O último relatório da FAO, divulgado ontem, registra que cerca de 43,2 milhões de pessoas na América Latina e no Caribe passaram fome em 2022. Nesse cenário urgente, que exige ações concretas, o Brasil, como o quarto maior produtor de alimentos em 2023, enfrenta um desafio monumental, especialmente porque dois terços de seus municípios, principalmente no Norte e Nordeste, carecem de capacidade para se adaptar aos efeitos climáticos, alertou Ana Toni, secretária de Mudança do Clima do Ministério do Meio Ambiente.
Apesar do aumento nos investimentos públicos e privados destinados a projetos de mitigação e adaptação às mudanças climáticas, apontado pelo último relatório da Climate Policy Initiative, os recursos ainda não são suficientes. A projeção de uma redução de 10,6 milhões de hectares de terra destinada à agricultura até 2030, como indicado pela secretária Ana Toni, é um chamado à ação urgente.
A crise climática não é uma ameaça distante: ela está acontecendo agora. Requer um compromisso coletivo, envolvendo governos, empresas e cidadãos, para enfrentar e reverter os impactos prejudiciais que a humanidade inflige ao planeta. A segurança alimentar, a estabilidade econômica e o bem-estar futuro dependem de ações decisivas e imediatas. A negligência não é uma opção. É hora de agir antes que os custos da inércia se tornem insustentáveis.
Bom fim de semana!