Nesta semana, assistimos ao jogador de futebol Daniel Alves sair pela porta da frente da cadeia, na Espanha, de cabeça erguida, após pagar a fiança de 1 milhão de euros (cerca de R$ 5,4 milhões) para aguardar em liberdade a análise dos recursos da sua condenação por estupro.
Para além da discussão sobre a previsibilidade da decisão da Justiça espanhola no Direito, que permite esse tipo de privilégio a criminosos, o caso é mais um tapa na cara das mulheres que erguem suas vozes por respeito, dignidade e direitos. Estuprar uma mulher tem um preço, e ele não é pago atrás das grades. Daniel Alves, assim como o também ex-jogador de futebol Robinho, só foram condenados por abuso sexual porque havia provas mais robustas contra eles. Imagina quantas mulheres já passaram pelo mesmo e não conseguiram provar o que sofreram?
Eu nunca me esqueci do caso de João de Deus, em 2018, em que o número de mulheres que denunciaram o médium por abuso sexual chegou a mais de 300 (trezentas mulheres!!!), e mesmo assim, ouvia-se muita gente contestando a veracidade e acusando as vítimas de oportunismo. Aqui, a palavra de 300 mulheres valeu menos do que a de UM HOMEM.
Parece um absurdo culpar as vítimas quando se trata de crimes contra a mulher, mas constantemente (senão todas as vezes) elas são colocadas contra a parede: ‘Mas olha a roupa que ela estava usando! Se sabia do perigo, por que bebeu na festa? Diz que apanha, mas continua com o cara!’.
Nós mulheres somos questionadas a todo o tempo. Sobre nossas escolhas, nossa competência, nossos comportamentos. Tudo é passível de julgamento frente a olhares machistas.
Você pode estar pensando: ‘ah, mas eu não sou assim!’ Será mesmo? Quanto vale a palavra de uma mulher para você? Quando uma amiga desabafa estar sofrendo um relacionamento tóxico e abusivo, você a apoia ou diz que ela está exagerando? Quando uma mulher te alerta sobre uma piadinha machista, você reflete ou dá risada e argumenta que é só uma brincadeira? Quando sua mãe ou sua parceira se queixa do peso das responsabilidades domésticas, você escuta e se prontifica a fazer sua parte ou pensa que esse é o papel dela? Quantas vezes você deu mais credibilidade a opinião de um colega de trabalho apenas por ele ser homem?
Não sei quem é você na nossa sociedade patriarcal, mas eu gostaria de te pedir: escute as mulheres. Leia-as, entenda-as, se desconstrua. Não duvide do sofrimento delas. Troque o questionamento pelo acolhimento. Apoie. Defenda. Ajude a mudar a história.
Dizem que a mulher sempre quer ter a ‘palavra’ final em uma discussão ou impasse. Deve ser porque, muitas das vezes, a última palavra dita por uma mulher é ‘socorro!’. E ela não vale nada.
* Durante todo o mês de março, os editoriais da Estratégia ESG serão escritos exclusivamente por mulheres que compõem a equipe da Alter Conteúdo e convidadas. Mais do que uma homenagem ao Dia Internacional da Mulher, nosso objetivo é trazer reflexões variadas sobre a construção do feminino e suas implicações no dia a dia das mulheres.